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TV digital mostra a sua cara (e a imagem continua ruim)
Reuters
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Um dos modelos de TV digital, que combina sinais de TV, Internet e telefone celular, é apresentado em uma feira na Alemanha |
Primeiros testes no Brasil reprovam padrão americano, que prioriza a alta definição; sistemas europeu e japonês são os favoritos para a nova era da televisão no país, que começa em 2001
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MÍDIA
TV digital define padrão no Brasil até abril
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Estados Unidos ou União Européia? Ou, quem sabe, Japão? Na
escolha do padrão de TV digital a
ser usado no Brasil, a partir de
2001, a parceria com os americanos já está quase descartada. Mas
eles começam a reagir.
Um relatório que a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) disponibilizou na Internet é categórico. A modulação
usada no padrão americano, chamado ATSC, é menos "adequada
às condições brasileiras" e "tecnicamente" inferior à modulação
usada nos padrões europeu
(DVB) e japonês (ISDB).
"Não há possibilidade de outra
tecnologia", diz o presidente da
Anatel, Renato Guerreiro.
O grupo técnico formado por
Abert (Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão) e
SET (Sociedade de Engenharia de
Televisão), que elaborou o relatório para a Anatel, continua em
testes com os padrões europeu e
japonês. O relatório final será entregue até o mês que vem.
A troca da TV analógica pela digital no Brasil, segundo a Anatel,
deve tomar dez anos e consumir
US$ 90 bilhões.
Alta definição
O ATSC, sigla para Advanced
Televison Systems Committee,
comitê que indica padrões de TV
digital para o governo americano,
reage com argumentos que beiram a acusação. "Estamos muito
desapontados e muito surpresos", diz Robert Graves, presidente do ATSC.
Ele dá razões que chama de econômicas. "Nós sabemos que a alta
definição é essencial para o Brasil", diz. "A alta definição é a aplicação central da TV digital como
ela está sendo implantada nos
EUA. Mas não existe nenhum
plano, de nenhum tipo, para oferecer alta definição em qualquer
lugar da Europa."
TV digital não é sinônimo de alta definição. A TV digital oferece
duas possibilidades centrais: alta
definição, com melhor imagem,
ou multiprogramação, com várias programações sendo transmitidas na baixa definição usada
hoje (leia textos abaixo).
O coordenador do grupo
Abert/SET, Fernando Bittencourt, questionado sobre limitações dos padrões europeu e japonês, respondeu num e-mail lacônico que "todos os sistemas podem transmitir TV em alta definição ou múltiplos programas em
definição convencional".
Efeito PAL-M
Outro contra-argumento "econômico" do ATSC acena com a
possibilidade de se repetir o que
ocorreu na definição do padrão
de TV colorida no país, nos anos
70. O PAL-M escolhido foi superado aos poucos pelo NTSC americano, deixando o Brasil com um
padrão obsoleto.
Olímpio José Franco, presidente da SET e também envolvido
nos testes, dá um argumento técnico, em resposta: "Nós não corremos o risco do passado. O padrão (na época) passava pelas etapas de produção, exibição, transmissão e recepção. Na TV digital,
o padrão só vai do transmissor até
o televisor".
Mas o risco existe. Segundo Robert Graves, do ATSC, um problema, nesse sentido, é a banda de
transmissão: "Toda a América do
Norte e do Sul usa canais de 6
MHz. Há especialistas em TV digital no próprio Brasil que não
querem trabalhar com a versão
adaptada para 6 MHz de um padrão europeu que, originalmente,
usa canais de 8 MHz".
Recepção
O grupo Abert/SET oferece um
argumento técnico central contra
o ATSC. "A grande diferença detectada nos testes, entre os sistemas, está na capacidade de cobertura", diz Bittencourt.
A modulação usada no padrão
DVB europeu conseguiu 100% de
sucesso de recepção (cobertura),
num raio de dez quilômetros a
partir da antena da Cultura, em
São Paulo. A modulação do ATSC
conseguiu apenas 80%. "O desempenho do ATSC nos testes foi
pior do que o da TV analógica
atual", diz Bittencourt.
Um dos problemas seria a dificuldade de recepção por aparelhos de TV que têm somente antena interna. O resultado dos testes
brasileiros reafirma obstáculos
que haviam sido apontados em
testes feitos nos Estados Unidos
-e que levaram a pedidos formais de troca da modulação ao
governo americano. Os pedidos
foram negados.
Questionado se planejava pedir
o apoio do governo americano,
na disputa pela definição do padrão brasileiro, o presidente da
ATSC respondeu, inicialmente:
"Bem, nós tentamos deixar o governo americano consciente do
que estamos fazendo".
Depois, qualificou sua resposta:
"É importante para as pessoas
nos Estados Unidos que o Brasil
adote o mesmo padrão, porque
isso vai significar mais investimento, mais pesquisa e desenvolvimento do padrão e isso vai se
traduzir em mais equipamentos,
a preços mais baixos. Mas nós esperamos que o Brasil tome a sua
própria decisão".
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