São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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"ASSASSINATO EM GOSFORD PARK"

Filme concorre ao Oscar em sete categorias, incluindo melhor filme e direção

Robert Altman aborda dois mundos em comédia genial

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Quando a câmera começa a rodar, naquelas aberturas tão longas e sem cortes quanto a histórica de Orson Welles em "A Marca da Maldade" (1958), você já sabe que se trata de mais um filme de Robert Altman. Ainda bem.
O diretor de 77 anos, correndo por fora do "star system" de Hollywood há quatro décadas, raramente decepcionou em seus 37 longas. Todo altmaníaco que se preza sabe de cabeça sua lista de preferidos. A minha tem "Cerimônia de Casamento" (1978), "M*A*S*H" (70), "O Jogador" (92) e "Short Cuts" (92).
E agora este "Assassinato em Gosford Park", que estréia hoje no Brasil e tem sete indicações ao Oscar, entre eles melhor filme e diretor (pena que não deve levar estes). Difere de sua obra em dois únicos aspectos: foi feito na Inglaterra e tem elenco predominantemente britânico, aliás um verdadeiro "who's who" do cinema inglês.
O roteiro começou com uma idéia do ator Bob Balaban (o rei das pontas nos EUA, mais conhecido do grande público como o pai da Phoebe em "Friends" ou o diretor da NBC que enlouquece em "Seinfeld") de homenagear "A Regra do Jogo", obra-prima de Jean Renoir de 1939.
Quando vendeu a idéia a Altman, acabou virando uma história de assassinato durante um fim de semana de caçada ao faisão numa propriedade rural inglesa (o tal Gosford Park do título) em 1932, com pitadas de Agatha Christie, sim, mas com toda a sátira e humor de Evelyn Waugh.
Nas mãos do diretor, o crime virou subalterno na trama, e o filme se concentra na relação entre os convidados -a maioria membros da nobreza, mas também um produtor de Hollywood e um ator interpretando o ator Ivor Novello, que realmente existiu- e seus serviçais, que se hospedam nos andares baixos da mansão.
É da interseção promíscua destes dois mundos, dos empregados, que eram chamados pelo sobrenome dos patrões e obedeciam à uma ética rígida, e dos nobres, que começam a antecipar a decadência que o Império Britânico viveria nos anos seguintes, com a Segunda Guerra, que sai o melhor do filme e de Altman.
São 137 minutos de duração, mais de 20 personagens, pelo menos uma dezena de subtramas que acontecem simultaneamente e todos os motivos para que você saia do cinema satisfeito. A satisfação de uma refeição completa, não a de um balde de pipoca.



Assassinato em Gosford Park
Gosford Park     
Direção: Robert Altman
Produção: Itália/Reino Unido/EUA, Alemanha (2001)
Com: Michael Gambon, Maggie Smith, Helen Mirren
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Central Plaza, Espaço Unibanco, Paulista e circuito


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