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"ASSASSINATO EM GOSFORD PARK"
Filme concorre ao Oscar em sete categorias, incluindo melhor filme e direção
Robert Altman aborda dois mundos em comédia genial
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Quando a câmera começa a
rodar, naquelas aberturas
tão longas e sem cortes quanto a
histórica de Orson Welles em "A
Marca da Maldade" (1958), você
já sabe que se trata de mais um filme de Robert Altman. Ainda
bem.
O diretor de 77 anos, correndo
por fora do "star system" de
Hollywood há quatro décadas, raramente decepcionou em seus 37
longas. Todo altmaníaco que se
preza sabe de cabeça sua lista de
preferidos. A minha tem "Cerimônia de Casamento" (1978),
"M*A*S*H" (70), "O Jogador"
(92) e "Short Cuts" (92).
E agora este "Assassinato em
Gosford Park", que estréia hoje
no Brasil e tem sete indicações ao
Oscar, entre eles melhor filme e
diretor (pena que não deve levar
estes). Difere de sua obra em dois
únicos aspectos: foi feito na Inglaterra e tem elenco predominantemente britânico, aliás um verdadeiro "who's who" do cinema inglês.
O roteiro começou com uma
idéia do ator Bob Balaban (o rei
das pontas nos EUA, mais conhecido do grande público como o
pai da Phoebe em "Friends" ou o
diretor da NBC que enlouquece
em "Seinfeld") de homenagear "A
Regra do Jogo", obra-prima de
Jean Renoir de 1939.
Quando vendeu a idéia a Altman, acabou virando uma história de assassinato durante um fim
de semana de caçada ao faisão numa propriedade rural inglesa (o
tal Gosford Park do título) em
1932, com pitadas de Agatha
Christie, sim, mas com toda a sátira e humor de Evelyn Waugh.
Nas mãos do diretor, o crime virou subalterno na trama, e o filme
se concentra na relação entre os
convidados -a maioria membros da nobreza, mas também um
produtor de Hollywood e um ator
interpretando o ator Ivor Novello,
que realmente existiu- e seus
serviçais, que se hospedam nos
andares baixos da mansão.
É da interseção promíscua destes dois mundos, dos empregados, que eram chamados pelo sobrenome dos patrões e obedeciam à uma ética rígida, e dos nobres, que começam a antecipar a
decadência que o Império Britânico viveria nos anos seguintes,
com a Segunda Guerra, que sai o
melhor do filme e de Altman.
São 137 minutos de duração,
mais de 20 personagens, pelo menos uma dezena de subtramas
que acontecem simultaneamente
e todos os motivos para que você
saia do cinema satisfeito. A satisfação de uma refeição completa,
não a de um balde de pipoca.
Assassinato em Gosford Park
Gosford Park
Direção: Robert Altman
Produção: Itália/Reino Unido/EUA,
Alemanha (2001)
Com: Michael Gambon, Maggie Smith,
Helen Mirren
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Central Plaza, Espaço Unibanco,
Paulista e circuito
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