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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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Libelo do diretor contra a produção nacional, "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro" demarca plano estético

Glauber contra todos

Divulgação
O diretor Glauber Rocha (1939-1981), que tem lançada sua "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro"


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de tomar de vez a câmera na mão, o cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981) quis colocar as idéias no lugar.
Em 1963, aos 24 anos, sem haver ainda concluído o filme que entraria em sua biografia como obra-prima e um dos marcos do cinema novo -"Deus e o Diabo na Terra do Sol", de 1964-, o diretor atacou (quase) todos e (quase) tudo na história do cinema nacional, com a publicação de "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro", que ganha nova edição neste mês pela editora Cosac & Naify.
"É um livro de arestas, uma obra-manifesto, feita para gerar polêmica e divisões. Há um gesto radical de Glauber no sentido de demarcar terrenos no plano estético", diz Ismail Xavier, professor e crítico de cinema, que assina o prefácio da obra.
No livro, Glauber "convoca os cineastas a caminhar numa direção que não é apenas a do engajamento político e de um modo de produção pautado pelo baixo orçamento, o cinema de autor", afirma o crítico.
A proposta militante do jovem diretor baiano "envolve a idéia de uma criação pautada pela conexão com o espírito do modernismo, da vanguarda do século 20 -a idéia da ruptura estilística e da busca de um cinema poético", de acordo com Xavier.
Glauber propõe, enfim, que o Brasil priorize um cinema novo.
As reações que o livro provocou em 1963 vão do aplauso ao desprezo e estão documentadas na fortuna crítica incluída nesta reedição, da defesa do conterrâneo João Ubaldo Ribeiro à ironia corrosiva de Armindo Blanco, para quem Glauber é um "profeta".
Literato e dono de uma curiosidade intelectual que aspirava ao enciclopedismo, Glauber abre sua "Revisão" citando Camões. "Não me interessou enumerar estatísticas e cifras, e sim interpretar os fatos, se a tanto me ajudarem engenho e arte."
E a conclui no tom provocador de Mário de Andrade. "Enquanto isso, os sabichões discutem se doce-de-abóbora não dá chumbo pra canhão."

Inéditos
Em parceria com o professor Carlos Augusto Calil, Xavier coordena a reedição comentada deste e de outros dois livros de Glauber pelo selo Cosac & Naify.
A coleção ficará completa com a publicação de um par de volumes inéditos de autoria do cineasta -a ficção "Adamastor", cujo título reproduz o nome do pai do cineasta, e seu diários no período de 1970 a 1974.
A agenda da editora prevê que antes dos textos inéditos -que devem chegar às livrarias na primeira e na segunda metades de 2004, respectivamente- estejam disponíveis as reedições comentadas de "A Revolução do Cinema Novo", em setembro, e de "O Século do Cinema", prevista para o primeiro semestre de 2004.


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