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"GLAUBER CONTRA TODOS"
Dentre seus poucos heróis, baiano destacou Rossellini, Bergman, Antonioni e Visconti
"Esgrima" ameaça Cavalcanti e Barreto
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua introdução à "Revisão
Crítica do Cinema Brasileiro",
Glauber Rocha define um combate: "Não há outro problema senão
este: na medida que o cinema de
autor é um cinema político e na
medida que o cinema comercial
reflete as idéias evasivas do capitalismo reformista, os problemas
de nossa indústria (...) são iguais a
todos os outros que vivem as demais classes produtoras e trabalhadoras do Brasil".
De acordo com o crítico de cinema Ismail Xavier "a estrutura em
duelos" do livro reproduz uma
característica geral do pensamento e da atitude do cineasta. "Para
Glauber, as idéias têm de ser encarnadas. Nesse sentido, ele cria
um universo dramático em que o
terreno da história vira um grande teatro e onde as personificações são metafóricas", diz.
Para sua esgrima intelectual,
Glauber convoca adversários em
todas as fileiras. Ele dedica um capítulo à desconstrução do filme-mito "Limite" (1931) e de seu autor, Mário Peixoto (1908-1992),
embora deixe claro que não havia
assistido ao título.
"Não é para o cinema brasileiro,
como nunca foi para nenhum cinema, que filmes belos pela beleza, na subjetividade de sentimentos burgueses, podem interessar.
Não compreendendo as contradições da sociedade, e assim se omitindo, o cinema optará pelo silêncio", escreve Glauber.
Também estão em seu alvo de
críticas, sempre sem meias-palavras, cineastas como Alberto Cavalcanti, Lima Barreto e Walter
Hugo Khouri.
No prefácio, Xavier aponta que
"apesar de tudo, Glauber ainda
identifica heróis: Rossellini, Bergman, Antonioni, Satyajit Ray e
Visconti. E desconfia dos mártires
que se queixam demais dos produtores, pois deveriam desde
sempre saber que as concessões
são inexoráveis, dado o "lado profano" do cinema. Ser cineasta é
um embate constante com a perspectiva da traição de si mesmo".
Entre os autores do cinema brasileiro, apenas Humberto Mauro
(1897-1983) merece do cineasta
apreciação sem reservas. "O que
de certa forma sacrificou Humberto Mauro e retardou sua glória
foi a própria estrutura primária
da cultura cinematográfica no
Brasil. Nesta época, Mauro é a
substância maior que não foi percebida", afirma Glauber.
Dentre as críticas positivas que
o livro recebeu, João Ubaldo Ribeiro, no jornal baiano "Diário de
Notícias", escreve: "Pode-se, sim,
dizer-se que os pontos de vista de
Glauber são discutíveis. Concordo, são discutíveis. Não por mim,
que concordo com eles, mas por
quem quer que discorde e queira
discuti-los".
Já a ironia é a chave da crítica
que Armindo Blanco publica na
"Última Hora". "Antes foi o caos.
Agora é a harmonia luminosa do
cinema novo. (...) Acabou a macumba e o terreiro está uma belezoca de tão limpo. Não sobrou
nem uma pena de galo, nem um
pingo de cachaça no fundo das
botelhas arquivadas a um canto.
O novo profeta é Glauber Rocha.
Ei-lo fazendo ribombar a sua voz
terrível, ameaçando os prevaricadores com todas as maldições do
inferno (Lima Barreto? É um fascista). Companheiros da Cinemateca: me arranjem logo uma exibição das fitas de Humberto Mauro.
Quero aderir já, antes que o dedo
do profeta me descubra e me reduza a cisco."
(SILVANA ARANTES)
REVISÃO CRÍTICA DO CINEMA BRASILEIRO. De Glauber Rocha.
Reedição comentada, com prefácio de
Ismail Xavier. Editora: Cosac & Naify.
Quanto: R$ 45 (240 págs.).
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