|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Piza visita seu "outro mundo" e constrói "paraíso" em desenhos
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um outro mundo". É como o
próprio Arthur Luiz Piza, 76, define os trabalhos que exibe no Instituto Moreira Salles, a partir de
amanhã. São centenas de desenhos feitos em páginas das cadernetas Moleskine (célebres por terem sido usadas por Pablo Picasso, Henri Matisse e Ernest Hemingway, por exemplo) que mostram figuras nuas, de cenas cotidianas a corpos dilacerados.
Os desenhos começaram a ser
feitos por Piza em 2003, quando
ganhou de presente sua primeira
caderneta. "Fiz um ou dois desenhos e fiquei encantado. Passei a
desenhar com freqüência, geralmente em uma hora em que ainda
não estou totalmente acordado",
explica o artista. "É um momento
em que é possível entrar numa espécie de zona especial da cabeça."
O estado quase-onírico em que
são realizados dá aos desenhos
laivos de surrealismo, que Piza
atribui ainda a um resgate do trabalho que executava nos anos 40.
"Quando comecei, em 40 e poucos, antes de me virar para as formas geométricas, eu era surrealista. Quando eu deixo, isso volta."
A mistura do ineditismo com
uma filiação passada também
trouxeram ao trabalho do artista
plástico leis particulares. "Determinei que não iria corrigir nunca
os traços", explica. "Às vezes, o segredo da graça está num erro."
A exposição em que desenhos
de corpos nus imperam ganhou o
nome de "Paraíso". Segundo Piza,
é uma leve referência às praias de
nudismo na França (país onde
mora há mais de meia década),
"que são os lugares onde se olha a
nudez com menos erotismo".
Mas no paraíso de Arthur Luiz
Piza entra também muita coisa
que vem da TV. "O que me impressionou muito foram aquelas
imagens dos soldados americanos humilhando os prisioneiros
no Iraque. É um tipo de violência
que sabíamos que existia, mas
nunca havia sido vista daquele jeito", conta. Ele enumera "uma viagem ao Egito", que fez recentemente, "e a mistura do presente
com o passado longínquo".
O passado do novo desenhista
está também do outro lado da rua
em que realiza a exposição. "Essa
mostra, para mim, é muito importante, emocionalmente. Eu
brincava nessa praça [Buenos Aires] quando era pequeno. Recupero em alguns desenhos memórias dessa época", diz.
Numa avaliação que vale para a
nudez, para a infância e para o
passado surrealista, Piza diz que
acha uma pena a repressão. "Você
precisa ficar velho para perceber
isso. Picasso é que dizia que levou
a vida toda para aprender a pintar
como uma criança, e assim é também para as outras coisas. Acho
que os únicos que são mais coerentes com relação a isso são os
nossos índios", conclui o artista,
que continua a desenhar em suas
cadernetas enquanto produz
obras que envolvem em arame
suas figuras geométricas para sua
próxima mostra, provavelmente
em maio.
(AM)
Paraíso
Artista: Arthur Luiz Piza
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Piauí,
844, SP, tel. 0/ xx/11/3825-2560)
Quando: abre hoje, das 19h às 22h (para
convidados). Ter. a sex.: das 13h às 19h;
sáb. e dom.: das 13h às 18h; até 15/ 5
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: SP sedia ícones da arte contemporânea Próximo Texto: Antonio Dias equilibra latas de bronze em arquiteturas do desastre Índice
|