São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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Piza visita seu "outro mundo" e constrói "paraíso" em desenhos

DA REPORTAGEM LOCAL

"Um outro mundo". É como o próprio Arthur Luiz Piza, 76, define os trabalhos que exibe no Instituto Moreira Salles, a partir de amanhã. São centenas de desenhos feitos em páginas das cadernetas Moleskine (célebres por terem sido usadas por Pablo Picasso, Henri Matisse e Ernest Hemingway, por exemplo) que mostram figuras nuas, de cenas cotidianas a corpos dilacerados.
Os desenhos começaram a ser feitos por Piza em 2003, quando ganhou de presente sua primeira caderneta. "Fiz um ou dois desenhos e fiquei encantado. Passei a desenhar com freqüência, geralmente em uma hora em que ainda não estou totalmente acordado", explica o artista. "É um momento em que é possível entrar numa espécie de zona especial da cabeça."
O estado quase-onírico em que são realizados dá aos desenhos laivos de surrealismo, que Piza atribui ainda a um resgate do trabalho que executava nos anos 40. "Quando comecei, em 40 e poucos, antes de me virar para as formas geométricas, eu era surrealista. Quando eu deixo, isso volta."
A mistura do ineditismo com uma filiação passada também trouxeram ao trabalho do artista plástico leis particulares. "Determinei que não iria corrigir nunca os traços", explica. "Às vezes, o segredo da graça está num erro."
A exposição em que desenhos de corpos nus imperam ganhou o nome de "Paraíso". Segundo Piza, é uma leve referência às praias de nudismo na França (país onde mora há mais de meia década), "que são os lugares onde se olha a nudez com menos erotismo".
Mas no paraíso de Arthur Luiz Piza entra também muita coisa que vem da TV. "O que me impressionou muito foram aquelas imagens dos soldados americanos humilhando os prisioneiros no Iraque. É um tipo de violência que sabíamos que existia, mas nunca havia sido vista daquele jeito", conta. Ele enumera "uma viagem ao Egito", que fez recentemente, "e a mistura do presente com o passado longínquo".
O passado do novo desenhista está também do outro lado da rua em que realiza a exposição. "Essa mostra, para mim, é muito importante, emocionalmente. Eu brincava nessa praça [Buenos Aires] quando era pequeno. Recupero em alguns desenhos memórias dessa época", diz.
Numa avaliação que vale para a nudez, para a infância e para o passado surrealista, Piza diz que acha uma pena a repressão. "Você precisa ficar velho para perceber isso. Picasso é que dizia que levou a vida toda para aprender a pintar como uma criança, e assim é também para as outras coisas. Acho que os únicos que são mais coerentes com relação a isso são os nossos índios", conclui o artista, que continua a desenhar em suas cadernetas enquanto produz obras que envolvem em arame suas figuras geométricas para sua próxima mostra, provavelmente em maio. (AM)


Paraíso
Artista:
Arthur Luiz Piza
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, SP, tel. 0/ xx/11/3825-2560)
Quando: abre hoje, das 19h às 22h (para convidados). Ter. a sex.: das 13h às 19h; sáb. e dom.: das 13h às 18h; até 15/ 5
Quanto: entrada franca


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