São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Mônica Bergamo

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Eduardo Knapp

Hebe 80

Apresentadora faz 80 anos hoje, diz que é "a única perua que fala", acha a TV decadente e prefere os "romances de antigamente". Por Audrey Furlaneto

"Comecei do nada, fui pobre, morei em porão, limpava a cozinha da minha tia pra ganhar um dinheirinho e pagar o bonde pra ir aos programas de calouros"

Quando fez o primeiro teste para a televisão, foi eliminada: tinha menos de 20 anos e sobrancelhas grossas demais. Ela repete a história sempre que lhe perguntam como tudo começou. Termina dizendo que acha o fato "muito engraçado". E tem lá sua ironia: Hebe Camargo foi chamada de volta para a TV pouco depois e praticamente não ficou fora do ar. Completa hoje 80 anos de idade -quase 60 de televisão.

 

Na segunda-feira anterior às suas festas de aniversário -serão pelo menos duas: uma hoje, organizada pela amiga Lucília Diniz, em São Paulo, e outra na Disney, no dia 17, para onde vai com amigos-, Hebe estava no camarim do SBT (uma sala simples, com um sofá de dois lugares, espelho pequeno e o enorme logotipo colorido da emissora numa das paredes). "Me vê um copinho d'água, meu amor?", pede a uma das produtoras do programa, já sentada no sofá, tirando alguns de seus enormes anéis.

 

Joias, aliás, nunca faltaram nos 80 anos da apresentadora, que já declarou que lhe faltará tempo para usar todas as peças que tem. "Sou muito simples. Uso coisas sofisticadas, mas eu não sou sofisticada. Adoro essas coisas, você tá vendo, né?", diz, rindo e balançando a cabeça para movimentar as duas imensas bolas de brilhantes nas orelhas. Além dos brincos, usa dois colares: um mais grosso, de argolas de brilhantes, e outro fininho, com seu nome num pingente -de brilhantes, claro. Sua coleção de joias, no ano passado, sofreu uma baixa: furtaram o cofre de sua casa, e ela perdeu não só brincos e colares, mas também seis relógios.

 

"Eu sou a perua assumida. A única perua que fala! Encarnei isso. Eu sou assim", diz Hebe, sobre as "coisas sofisticadas" que usa e que, na sua opinião, não fazem com que ela seja parte da "elite branca". "Amor, eu sou uma pessoa bem-sucedida", indigna-se. "O que eu tenho é do meu trabalho. Eu comecei do nada, eu fui pobre, eu morei em porão, eu limpava a cozinha da minha tia pra ganhar um dinheirinho e pagar o bonde pra ir aos programas de calouros. Não tenho nada que ganhei ilicitamente. Eu não sou como eles lá, em Brasília." Foi por isso, para protestar contra a corrupção, que Hebe diz ter participado do movimento Cansei, de João Doria Jr.

 

"Fui muito criticada por isso. Mas eu não tinha nada contra o Lula", explica. "Não votei nele, mas não tenho nada contra. Não gosto da amizade que ele tem com Fidel [Castro, ex-ditador convalescente de Cuba], com [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela]. Não gosto de ditadores, sabe? O Chávez é um ditador, um cara que quer ficar para sempre no governo. Fidel também. E não morre nunca! Tá lá, magro e arcaico, e não morre! Mas também não faz mais mal para Cuba", avalia ela, que, na política nacional, já fez campanha para o ex-prefeito Paulo Maluf. Agora, "não faria campanha de ninguém".

 

Pouco antes, Hebe gravava o programa, o mesmo que tem há 23 anos no SBT, e dizia, numa espécie de editorial do dia, que estava "indignada" com os "corruptos de Brasília", fazendo um sinal de "banana" para as câmeras. "Eu deixei um tempinho de falar [no editorial] e ficou todo mundo me cobrando. Minha indignação aumenta, porque vejo que a corrupção aumentou e não aconteceu nada. Você não fica indignada?"

 

A indignação de Hebe também já chegou a seu patrão, Silvio Santos. Em 2008, o programa mudou de horário (das 22h para 20h), ela teve o salário reduzido e ficou "tristinha". "Meu salário não era de R$ 1,5 milhão, como muita gente tá falando. Não é, nunca foi. Quem ganhava R$ 1,5 milhão era o Ratinho. Eu jamais ganhei R$ 1,5 milhão de salário. É uma coisa fantástica, né?", diz. Estima-se que seu salário tenha caído para R$ 500 mil mensais. Ela não confirma. "Sou muito bem remunerada. É claro que eu não gostaria de ver meu salário reduzido. Mas entendi o posicionamento do Silvio. Realmente a situação, não só no Brasil, mas no mundo, está difícil."

 

"Tristinha" mesmo ela ficou com a mudança de horário. "Às vezes até eu esquecia que era às 20h o programa. Porque televisão é hábito, né? Você sabe que 20h é o "Jornal Nacional", 21h é a novela..." Ela diz que não se anima muito a ver TV, exceto os telejornais. Quando a repórter pergunta se ela acha a televisão decadente, Hebe concorda. "O que eu não gosto não sou capaz de ver. Por exemplo, BB... ehhh... [a repórter sopra o nome] Isso, "BBB'! Acho um horror, cada vez pior. É uma promiscuidade que é mostrada ali... As pessoas nem se conhecem e já vão para cama. Nesse ponto, eu sou meio antiga."

 

Ser "meio antiga" inclui não aceitar que mulheres mais velhas se apaixonem por homens mais novos -em 2007, não foi ao casamento da amiga Ana Maria Braga, 59, com Marcelo Frisoni, então com 37, e comentou em seu programa: "Esse negócio de garoto casar com "veinha"... Não vem que não tem!". Com 80 anos, Hebe talvez seja a última romântica: "Prefiro ver um romance como era antigamente", repete.


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