São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Televisão/Crítica

"Tropa de Elite" é um filme ingênuo

CRÍTICO DA FOLHA

Ok, aceitemos que "Tropa de Elite" (TC Premium, 17h30; não indicado a menores de 16 anos) não é fascista.
Mas, em vários aspectos, é um filme ingênuo, para usar a terminologia cara ao pessoal da Atlântida.
O mais claro deles é, sem dúvida, o papel de Michel Foucault nessa história, introduzido como assunto principal numa aula de uma universidade carioca. A ideia do filme é simples: a teoria não passa de alienação, pois produzida nos gabinetes e difundida entre estudantes alienados (cada vez mais alienados, devido aos ensinamentos). O único estudante a saber o que se passa na realidade é o jovem policial negro. Porque ele sobe no morro, leva tiro e tal e coisa.
Digamos que as teorias de Foucault não se apliquem aos criminosos do Rio de Janeiro. Ainda assim, será preciso que outra teoria a substitua e permita enfim compreender o que se passa nesse território de droga, pobreza, religião, funk, corrupção etc. Pois por mais que se enalteça o papel da prática, ela nunca surge do nada.
Ora, quando falou à TV, o diretor José Padilha teorizou longamente sobre polícia e crime. Quase não falou de cinema, que também precisa de ideias. Uma delas: em cinema não existe sangue, existe vermelho (Jean-Luc Godard). Em "Tropa de Elite" há muito mais sangue que vermelho. Por isso é um fenômeno sociológico, nunca será um grande filme.
(INÁCIO ARAUJO)


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