São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O Clã das Adagas Voadoras", de Zhang Yimou, que estréia hoje, leva às telas triângulo amoroso

AMOR DE PERDIÇÃO

Divulgação
A atriz Zhang Ziyi (à dir.) em cena do longa "O Clã das Adagas Voadoras", do diretor chinês Zhang Yimou, que estréia hoje no Brasil


JULIA STUART
DO "INDEPENDENT"

Que os nossos olhos ardam no cinema quando o herói ou a heroína do filme finalmente morre é previsível. Mas eu nunca tinha vivido um momento regado a lágrimas simplesmente porque a cena era tão suntuosamente bela e artística. E certamente não num filme de artes marciais.
Sentado à minha frente, com expressão grave, está o responsável por isso: o diretor chinês Zhang Yimou. A cena em questão está em seu filme mais recente, "O Clã das Adagas Voadoras".
Um governo corrupto está em choque com Exércitos rebeldes, o maior dos quais é o clã das Adagas Voadoras. Dois capitães de polícia (Andy Lau e Takeshi Kaneshiro) tentam se infiltrar no clã. Para isso, ajudam a libertar da prisão sua líder cega, Mei (Zhang Ziyi, famosa por "O Tigre e o Dragão"). Reviravoltas e um triângulo amoroso mais tarde, o sangue jorra, e a câmera acompanha a trajetória de cada gota enquanto atravessa a paisagem nevada.
Zhang dirigiu "Amor e Sedução", o primeiro filme chinês a ser indicado a um Oscar, "Lanternas Vermelhas" e "Herói", que também receberam indicações. Ele é conhecido por ser exigente consigo, mas está satisfeito com "O Clã das Adagas Voadoras".
"Há mais humanidade e emoção humana nele do que em outros filmes de artes marciais", diz. "Antigamente eu fazia filmes artísticos e românticos. Quis combinar romance com artes marciais."
A seqüência que tanto me comoveu, e que suscitou aplausos espontâneos quando o filme foi exibido para a imprensa em Cannes, foi a primeira tentativa de Zhang de unir dança clássica com artes marciais. Ambientada num bordel de alta classe, ela começa com um dos capitães de polícia atirando um feijão sobre um dos muitos tambores posicionados em semicírculo. De pé no meio dos tambores, Mei então bate no mesmo tambor com sua manga longa. O capitão continua a atirar feijões contra tambores diferentes, enquanto Mei os vai tocando com suas mangas na mesma seqüência, num frenético e hipnotizante balé de movimentos e giros.
Um dos maiores desafios que o diretor enfrentou foi filmar a luta num bambuzal, um pré-requisito do gênero, de maneira diferente de todos os filmes anteriores de artes marciais. "Quase desisti de fazer a cena", ele admite. "Então pensei nos filmes de ação ocidentais, com suas perseguições de carros e um helicóptero no ar."
Zhang fez os protagonistas correrem pelo chão, com 20 agentes do governo os perseguindo em sentido aéreo, agarrando uma haste de bambu depois de outra. Os atores nas árvores eram acrobatas suspensos a 12 m do chão.
A cena final também teve seus problemas. A neve chegou inesperadamente cedo neste ano, criando problemas enormes de continuidade. Zhang decidiu incluir a mudança de estações no filme, de modo que não pede desculpas pela neve ensangüentada, que cria um clima perturbador.
O diretor diz que está acostumado com as restrições na China, onde vários de seus filmes foram proibidos. "A primeira coisa em que pensa um diretor chinês quando um roteiro lhe chega às mãos não é o aspecto artístico, mas onde o filme será autorizado para exibição."
Ele teria preferido fazer as cenas de amor mais apaixonadas. "Como artista, eu gostaria de ser totalmente livre, mas apenas tento fazer meu trabalho diferente. Se há uma única coisinha que seja não-convencional, isso é muito precioso e me deixa feliz."

Tradução Clara Allain

Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Crítica: Esteticismo disfarça que filme é pura propaganda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.