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CDS
RAP
"El Kilo", terceiro CD do grupo, confirma química entre o hip hop e os latinos
Orishas ecoa confortável em terreno cubano-brasileiro
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o carioca Marcelo D2 encontrou no samba a sua batida perfeita para o rap, do lado de lá do
Equador os cubanos do Orishas
vêm usando a música caribenha
para trilhar caminho semelhante.
"El Kilo", terceiro álbum do trio
de rappers formado por Roldan,
Ruzzo e Yotuel, aposta na mesma
mistura que os consagrou em
2000, quando "A lo Cubano" foi
lançado, arrancando elogios da
crítica e tomando de assalto as
pistas de dança do planeta.
"O negócio não está fácil/ sobra
pouco pra inventar/ pra encontrar a melodia/ tem que ser natural (...) os Orishas confiam no que
sempre te dão/ Cada qual com seu
dilema/ Cada louco com seu tema", vão avisando, logo de cara,
em "Nací Orishas".
Como em seus trabalhos anteriores, "El Kilo" é repleto de faixas
dançantes, em que a percussão da
salsa e os naipes de metais afro-cubanos comungam com os beats
norte-americanos sem prejuízo
para um ou outro.
"Que se Bate" é de retórica quase gangsta, mas, com uns scratches aqui e ali, passeia pelo dub,
pela eletrônica e explode na mais
pura tradição cubana; "Elegante"
vai na mesma linha: aproveita o
dub, flerta com o ragga, mas não
esconde suas maracas e vocais "à
Buena Vista Social Club", para ficar numa comparação óbvia.
Candidatas às pistas do próximo verão europeu -"El Kilo" foi
gravado entre Paris, Madri e Nova
York e já estreou entre os cem álbuns da "Billboard"-, "Bombo"
e "Quien te Dijo", com o rapper
americano Pitbull no vocal, investem em grooves mais modernos e
no resgate recente do Miami Bass.
Mas, quando não estão em festa,
os Orishas reduzem a marcha e
mergulham, agora com o produtor de Yerba Buena e Macy Gray,
o venezuelano Andres Levin, no
rhythm'n blues.
É aí que surge a faceta mais politizada do disco, característica
acentuada desde o anterior "Emigrante". A faixa-título, "El Kilo",
atira contra "velhos embusteiros"
e "el gobierno"; "Distinto" tenta
vencer o preconceito que o rap,
mesmo que quase maior de idade
em Cuba, ainda enfrenta na ilha;
"La Calle", por sua vez, cede aos
violões da guajira para tratar dos
problemas dos imigrantes ilegais:
"Muita democracia, e isto para
que serve?/ Se de papéis careço/ se
por ser negro eu sofro/ nesta sociedade corrupta, injusta".
A crítica é mais diluída -e
construtiva?- em "Reina de la
Calle", sobre a prostituição: "Só
por dinheiro não vale a pena, menina/ Escuta, este é o teu drama
(...) Escuta, dama, este teu drama
de rua, passando de cama em cama/ Ave-Maria, por Deus /Não
vale a pena dedicar corpo e alma a
essa tortura que te queima".
Ou talvez mais bem-humorada
na etílica "Al que le Guste", que
abre com uma introdução digna
de filme B: "Você, você, você/ Ponham-se de pé, companheiros, isto começa assim". E, mais adiante: "Fazia pose de bom, de sério e
auto-controlado, de um sujeito
são, sem drogas e sem álcool".
No lugar de correntes de ouro e
prostitutas de luxo do rap americano, Orishas rima em terreno conhecido. Aos cubanos e aos brasileiros. Sejam "rapperos", neo-sambistas ou pagodeiros.
El Kilo
Artista: Orishas
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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