São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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ERIKA PALOMINO

MODA NÃO É SÓ PASSARELA OU VITRINE

Um mercado de moda deve ter características locais. Porque a moda não é apenas o que se coloca na vitrine ou o que aparece nas passarelas. Tem a ver com universos e gente, com a vida que elas têm, os lugares em que elas vão, as coisas que elas fazem. Daí eu ter achado superlegal ter ido ao eventinho de sábado na Pelu, a simpática lojinha numa vilinha da alameda Lorena, ali nos Jardins. Tudo no diminutivo porque tudo sem pretensão, e por isso mesmo tudo ótimo.

 

As donas, Claudia Tannous e Helena Linhares, recebem as pessoas sem cerimônia, e todo mundo fica à vontade. Tem um DJ tocando (nesse dia era Edu Corelli), mas a tarde estava quente, e o mais gostoso foi ficar lá fora, onde eram servidas surpreendentes caipirinhas de uva e pimenta, além de cerveja de garrafa grande. Todo mundo se falando e se olhando. Ao final, claro que muita gente compra. Ou ao menos vê. Eu vi ao vivo o trabalho de Juliana Jabour, que na semana anterior (ou foi na outra?) tinha desfilado, com sucesso, na Casa de Criadores. Entendi melhor depois que vi as peças na arara, tops e vestidos em jérsei, frescos no descompromisso, honestas tentativas de fazer, não a moda que vai mudar o mundo, mas roupas para vestir. Roupas que aquelas pessoas vestem. E compram.
 

Daí eu achar que ficou meio chato o Amni Hot Spot desta estação ter se transferido para Belo Horizonte. O evento, que já foi responsável por alguns dos momentos mais legais das temporadas brasileiras e acontece entre os dias 14 e 16, foi para a cidade mineira como parte do Minas Cult, um festival cultural promovido pelo governo do Estado. Segundo a direção do evento, fazia parte do projeto inicial o Hot Spot ir para outras cidades. Mas, com isso, nomes que compõem núcleos sólidos na cena fashion paulistana, como Raquel Uendi, Eduardo Inagaki, Amonstro, Priscilla Darolt, Depeyre, Wilson Ranieri, e as talentosas Simone Nunes e Emilene Galende, desfilam fora de seus territórios. OK, o objetivo é estimular a moda em MG, e talvez amplie os universos dos próprios estilistas desfilar fora da cidade. Mas, no caso deles, com características e/ou vocação underground/alternativa, isso faz, sim, uma diferença. Se o desfile vai ser o mesmo? Talvez. Mas, para mim, o Hot Spot versão BH não terá a mesma graça nem a mesma força, nem o evento tem a mesma relevância.
Por sua vez, a estilista Adriana Barra prova que não é preciso fazer desfile para fazer sucesso e vender. Mandou nesta semana um sedutor e lúdico convite para suas clientes conhecerem a nova coleção. No lugar de um catálogo, um caderno encapado com aquele plástico azul que todo mundo usava (usa?). "A coleção é uma mistura de tudo o que gosto, sem inspiração certa", afirma. Ah, que diferença desses estilistas que mais parecem carnavalescos, justificando enredos irreais.

Colaborou Sergio Amaral

HYPE É CARIOCA
Depois de amplamente alardeada por aí, a Electro Hype Fair, que acontece a partir de amanhã em SP, teve de mudar de nome às pressas, passando a se chamar EHF Fair. É que eles foram notificados judicialmente pelo pessoal do evento Babilônia Feira Hype, feira de moda alternativa que acontece desde 96 no Rio. Eles são os detentores do nome HYPE para as áreas de eventos e moda. "Achei bobagem não checarem antes o nome que eles queriam usar", diz Robert Guimarães, do Babilônia. Robert conta que teve que "ensinar os cariocas a pronunciar hype": "No começo os cartazes tinham uma setinha, indicando como se pronunciava (ráipe). Ninguém sabia o que era isso antes".

DISTORTION DISKO?
Agora é a vez da Distortion Disko. Seria um mix de new-wave house, tecno-rap e smut-rock. Hã? Pergunte ao Larry Tee, que batizou assim esse som e sua nova noite em NY. Larry, você sabe, é o pai do electroclash, que passou dessa para melhor -absorvendo influências. A noite rola às quintas no Duvet, ex-Centro-Fly. Arrasa.

na noite ilustrada...
Hoje
Noite de jet lag. Para os gringos, claro. O inglês Mr. Cormac toca no Amp; no Ultra, tem o canadense Kio Kio; na Freak Chic, a atração é o americano Miles Maeda; e, na The Week, tem o francês Lady B.

Amanhã
O produtor Bid faz show de lançamento do seu CD "Bambas & Biritas" no Sesc Pompéia, a partir das 21h. O clã da Circuito comemora um ano da Electro Breaks, com o DJ Assault, de Detroit. No Bar 13 tem a estréia da Onda Nova, de electro-rock-acid-house-disco-punk, com Marcão Morcerf à frente. E tem a Max, do promoter Xu. No line-up, Johnny Luxo e Corelli.

Conversinha
MARINA LIMA ARRASA AO VIVO E ON-LINE
Marina Lima está na cidade. Ela se apresenta no Baretto hoje, amanhã e na semana que vem. "Quero cantar", disse. "E quero que as pessoas prestem atenção à música", completou. Marina está empolgada (entre outros motivos) com seu novo site (www. marinalima.com.br), que entrou no ar na última sexta. Aproveitando a ocasião, quis fazer essa conversinha por e-mail, que ela acha que é uma "mão na roda".
 

Folha - Qual sua relação com internet e tecnologia?
Marina Lima -
Intensa. Profissionalmente, o computador me trouxe independência. Posso "preparar" as canções com muito mais autonomia. Isso sem falar no tempo que ganhei. No nível pessoal, só para dar um exemplo, a tecnologia me livra de telefonemas e intimidades com pessoas que mal conheço, mas que acabo tendo que ter contato por conta do trabalho. O e-mail foi uma mão na roda...
Folha - Fala do site novo.
Lima -
Acho que, pela primeira vez, tenho um site que dá conta da minha carreira. É altamente informativo (tem todas as músicas, letras, encartes). Tenho muitos discos gravados (17) e muitos anos de carreira (27).
Folha - Você está em estúdio agora? O que está rolando?
Lima -
Estou compondo muito. Tenho um acetap (um miniestúdio) em casa, que me permite fazer muitas demos e experiências. O que gosto aproveito depois. Fora isso, estou ensaiando com uma banda nova para testar algumas canções no Baretto.
Folha - Você tem ouvido que tipo de música?
Lima -
A minha [risos]. Não, sério: quando estou compondo, não ouço quase nada, preciso ouvir uma música "interna" que está prestes a sair... Nessas horas, a música dos outros me atrapalha. Mas vinha escutando Radiohead, Coldplay, mais rock com eletrônica.
Folha - Como está seu namoro com o eletrônico?
Lima -
Virou um casamento, só que em casas separadas [risos]... Por isso não tenho que, necessariamente, fazer música para dançar. Mas amo os timbres, os sons, os ruídos e as freqüências que eles provocam.São uma tradução do mundo de hoje, e é dele que gosto e me alimento.

@ - epalomimo@folhasp.com.br

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