São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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POP

Conferência reúne estudiosos no Reino Unido

The Smiths polemiza como tema acadêmico

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

A música pop dos anos 80 chegou aos painéis de conferências universitárias no Reino Unido. Entre hoje e amanhã, a banda britânica The Smiths será tema de um simpósio na Manchester Metropolitan University que reunirá acadêmicos de todo o mundo, assim como jornalistas e músicos. O assunto foi tratado com estardalhaço pela mídia inglesa e até causou polêmica.
Segundo Sean Campbell, professor de estudos culturais da universidade APU Cambridge e um dos coordenadores do evento, a música pop tem ocupado um lugar central na vida das pessoas há cerca de 50 anos, razão mais do que suficiente, de acordo com ele, para que seja objeto de interesse acadêmico. "Por que ignoramos uma parte tão central do dia-a-dia das pessoas?", disse Campbell à Folha.
O acadêmico fala sobre o assunto já em tom defensivo depois que a notícia do simpósio sobre os Smiths causou barulho na mídia britânica, inclusive levantando críticas de jornais como o tablóide "Daily Mail".
O "Guardian" fez uma reportagem ouvindo vários especialistas em música que foram questionados se uma banda como os Smiths mereceria reflexão acadêmica. A maior parte deles, como Campbell, inverte a pergunta: "Por que não?".
Campbell diz que, se é aceitável que a academia estude "literatura ruim ou cinema de má qualidade", um seminário de algumas horas sobre uma banda pop de alta qualidade deveria ser visto com naturalidade.
Sobre a escolha da banda liderada pelo vocalista Morrissey -que voltou à cena musical no ano passado-, o especialista cita a influência que os Smiths, que se separaram em 1987, exercem até hoje: "Nós reconhecemos que o som dos Smiths hoje em dia está bastante no ar. Se você ouvir as novas bandas, como Coldplay e Franz Ferdinand, consegue reconhecer o som dos Smiths na música deles."
O especialista em música pop diz que a estética -de transgredir a questão de gênero, por exemplo- e o controverso engajamento político "pedem" para serem analisados. A inovação musical, criada pelo conflito entre as melancólicas letras de Morrissey e o tom "jubilante", como destaca Campbell, da guitarra de Johnny Marr, também justificaria o foco acadêmico.
Questionado, no entanto, se a música pop de forma geral se apresenta de forma atraente aos olhos dos departamentos de estudos culturais, Campbell diz que não. "É difícil imaginar uma conferência acadêmica sobre a maior parte das bandas atuais. Do ponto de vista estético e musical, elas são menos interessantes. Mas também tem a ver com o contexto, muitas delas hoje não estão criticamente engajadas com seu contexto, como os Smiths estiveram", afirmou.


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