PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Assalto à 13ª Delegacia", de Jean-François Richet, vira as costas para o original de John Carpenter e avança sobre questões outras. Alforria digna para uma refilmagem, mas a liberdade não levou este olhar muito além do cárcere psicológico dos personagens.
O filme de Carpenter, em 1976, travava não poucos diálogos, sobretudo com o western de Howard Hawks e com o cinema de George Romero. Tínhamos um subúrbio de Los Angeles vazio, esquelético na fisionomia das casas e, sobretudo, da delegacia decrépita que fechava as portas. Um policial, estrangeiro ali, assume extraordinariamente a última noite de vida daquela DP, que logo estará cercada por uma gangue. O motivo, que era executar o pai de uma vítima, é esquecido, porque a ação do grupo é mais política, nebulosa, sim, mas que deixa claro que aqueles indestrutíveis homens sem rosto e corpo detectados pela câmera ágil de Carpenter arrasariam a 13ª.
Uma vez que a ordem das coisas é incompreensível, criar novas alianças dentro da delegacia para sobreviver é a única certeza dos protagonistas. A versão dirigida por Richet tira a filosofia do ato de sobrevivência do grupo. Agora, resistir é mais prova de que o policial Jake Roenick (Ethan Hawke) livrou-se do trauma de saber que seus colegas morreram, meses atrás, por falha dele.
Psicologia às claras, assim como o motivo da gangue, que aparece mascarada, mas em primeiro plano, inapta nos assaltos à delegacia. Sabe-se logo que são policiais corruptos, prontos para matar o bandido Bishop (Laurence Fishburne), que pode testemunhar contra eles. A câmera de Richet filma no limite da competência. Até Carpenter revisitou causticamente seu "Assalto..." em "Fantasmas de Marte", em 2001.

Assalto à 13ª Delegacia
Assault on Precinct 13
 
Direção: Jean-François Ríchet
Produção: EUA/França, 2005
Com: Ethan Hawke, Laurence Fishburne
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Eldorado e circuito