|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Coleção reúne as 223 melhores capas do jornal desde sua fundação, em 1921
Folha lança nova edição de livro de primeiras páginas
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como fazer um dia caber numa
página de 53cm de altura por
30cm de largura? O problema ganha contornos mais dramáticos
nos dias em que se tem a impressão de ver a história acontecer
-aquela que terminará nos livros e ajudará a explicar mudanças significativas na sociedade, na
economia e na política-, ao mesmo tempo em que os fatos se atropelam diante dos repórteres.
A Publifolha acaba de publicar
223 exemplos bem-sucedidos
desse momento agudo do trabalho jornalístico, ao reunir as capas
mais importantes da história da
Folha, desde 1921, na nova edição
do livro "Folha de S.Paulo -Primeira Página" (R$ 69; 240 págs.).
Esta é a sexta versão do livro,
lançado originalmente em 1985.
Da última atualização, em 2000,
até a atual, foram excluídas páginas que ficaram menos importantes historicamente, concentradas
principalmente nas décadas de
1980 e 1990, e incluídas outras,
mais recentes, como a do episódio
do mensalão, que
derrubou ministros e deu início à
mais grave crise do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva.
As primeiras páginas da Folha
mostram também, à sua maneira,
a fórmula tipicamente brasileira
para a apresentação das notícias
mais importantes de um dia. É
que os jornais do país, de uma
maneira geral, têm características
bastante diferentes das soluções
gráficas adotadas por jornais estrangeiros.
O editor de arte da Folha, Massimo Gentile, descreve algumas
dessas peculiaridades. "O grande
número de chamadas, que são pequenos resumos, e as fotos grandes, por exemplo. A capa tenta
dar uma visão ampla do cardápio
dos assuntos mais importantes do
jornal daquele dia. São características brasileiras que a Folha desenvolve muito bem", diz.
"O jornal fez com que os leitores
criassem um hábito, pois eles já
sabem que aquele assunto destacado na capa vai estar maior lá
dentro. Nos jornais ingleses, por
exemplo, não existe essa preocupação. Às vezes a reportagem inteira começa e morre na capa
mesmo", diz o editor.
O modelo da Folha descrito por
Gentile encontra-se, na verdade, a
meio caminho de dois "padrões"
principais, ao menos se seguirmos a divisão proposta por Matt
Mansfield, editor da primeira página do "San Jose Mercury News":
jornais que "tentam capturar a
história para gerações vindouras", cujo exemplo maior é o americano "The New York Times", e
capas mais preocupadas com
questões e notícias locais, independentemente de quão perecíveis possam ser.
Para Gentile, o fato de a Folha
obedecer a certos padrões na edição da sua capa guarda um paradoxo. "Os grandes jornais que vivem essencialmente de assinaturas, como a Folha, poderiam, em
tese, fazer o que quisessem na primeira página, pois não precisam
tanto entrar na disputa pelos leitores que compram jornais em
bancas. Ainda assim, a Folha insiste numa capa chamativa, nervosa e colorida, pois quer conquistar novos leitores e o público
mais jovem."
O apego excessivo a regras e formatos repetitivos na capa é criticado por Bill Gaspard, ex-diretor
de design do "Los Angeles Times". "Muitos modelos de capas
são tão constrangidos por regras
-número de histórias, referências, resumo das chamadas etc.-
que acabam tendo dificuldade de
refletir o noticiário."
Também nisso a Folha segue
uma solução mista, subordinada
a regras, mas capaz de criar ao reconhecer fatos verdadeiramente
relevantes -como se pode ver
nas páginas do livro.
Guinada
Está lá, por exemplo, a série de
capas da cobertura da votação da
emenda das Diretas-Já pelo Congresso, em 1984. A ocasião marcou uma guinada na linha editorial da jornal, que fez campanha
aberta pela redemocratização do
Brasil e estabeleceu, então, como
linhas-mestras de seu projeto o
jornalismo crítico, apartidário,
pluralista e independente.
Também estão no livro fatos
que marcaram a história recente,
como os atentados de 11 de Setembro, de Madri e de Londres,
além da Guerra do Iraque. Mais
distantes no tempo aparecem as
primeiras páginas que narraram a
morte de João Pessoa ("Foi assassinado, em Recife, o sr. João Pessoa" - 27 de julho de 1930), a saída
de Janio Quadros da Presidência
("Extra, extra, Janio renunciou"
-25 de agosto de 1961) ou a chegada à Lua ("A Lua no bolso" - 21 de
julho de 1969).
De uma diagramação pesada,
sem fotos e pouca hierarquização
dos assuntos às soluções gráficas
mais recentes, com imagens grandes, infográficos e pequenas chamadas que sintetizam os assuntos
da edição, muita coisa se passou.
Desde 1921, o ano da fundação
da "Folha da Noite" (que, em
1960, viria a se tornar Folha de
S.Paulo, após fusão com a "Folha
da Manhã" e a "Folha da Tarde",
ambos pertencentes à mesma empresa), essas páginas refletem
parte da história, misturada a notícias cotidianas, mesmo frívolas,
cuja importância não sobreviveu
ao dia seguinte da publicação.
É o caso da capa do dia 15 de
março de 1985, que noticiava:
"Tancredo é operado", fato que
marcaria a conturbada transição
à democracia no país. Mais abaixo, outro título: "Menudo faz o
primeiro show no Brasil."
Texto Anterior: Programação Próximo Texto: A procura da manchete em dia de pouca notícia Índice
|