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Crítica/"Peixes Pássaros Pessoas"
Cantora deixa de gravar músicas só de grandes nomes e encontra sua turma
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A evolução é gigantesca.
"Kavita 1", o álbum que
lançou Mariana Aydar
em 2006, apresentava uma
cantora de voz bonita. E pouca
coisa além. Quase nada se via
da artista por trás daquele timbre, daquela afinação, da produção sofisticada.
Como quem pretende se vestir bem, mas não sabe qual é seu
próprio estilo, Mariana parecia
ter escolhido aquele repertório
pelo valor das etiquetas: uma
canção pop de Los Hermanos,
um samba de Clara Nunes, uma
bossa moderna de João Donato, um manifesto político de
Elis Regina. São músicas lindas,
mas cadê Mariana?
Em "Peixes Pássaros Pessoas" ela chega. Como em histórias de amor de antigos sambas, a cantora parece ter se descoberto, em parte, no reflexo do
olhar do namorado. Duani é baterista e coprodutor do álbum e
se revela quase tão seu autor
quanto Mariana, escrevendo
sete de suas 13 faixas e mantendo o samba como o eixo. Faz
partido-alto, samba-enredo e
outras variações com letras
simples, mas bem trabalhadas,
à moda dos clássicos.
Agora, cada faixa vale quanto
pesa, independentemente da
grife que a assina. Esse parâmetro faz do disco um terreno fértil para que música realmente
nova aconteça. E ela brota por
todos os cantos. Sensual em
"Beleza" (da promissora dupla
Luisa Maita/Rodrigo Campos),
cantada em belo dueto com a
cabo-verdiana Mayra Andrade.
Nordestina e ecológica em
"Tá?" (Carlos Rennó/Pedro
Luís/Roberta Sá). Enigmática
em "Nada Disso É pra Você"
(Rômulo Fróes/ Clima).
Psicodélica em "Tudo que Eu
Trago no Bolso" (Nuno Ramos/Kavita pseudônimo da
Mariana compositora), que fecha o álbum com sua harmonia
desconstruída pela guitarra
lendária de Lanny Gordin.
Mariana encontrou sua turma. E a voz bonita, antes único
trunfo, agora é só o instrumento para as coisas mais consistentes que ela tem a dizer.
PEIXES PÁSSAROS PESSOAS
Artista: Mariana Aydar
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 28
Avaliação: bom
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