INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O recente júri do caso Nardoni aconteceu em dois níveis: dentro e fora do tribunal.
Isso também acontece em alguns filmes estrangeiros -especialmente quando, por questões étnicas ou outras, a população não acredita realmente no espetáculo que se realiza na sala-, como em "Passagem para a Índia" ou em "O Vento Será Sua Herança".
Na maior parte das vezes, no entanto, os filmes de júri representam um aval da sociedade à sua Justiça. A população se sente representada ali.
No caso brasileiro, o que se verifica é coisa de outra ordem: a população duvida da Justiça como princípio. Acredita que aquele ritual todo seja uma maneira de enganar trouxa.
Quem se atreverá a dizer que está enganada ou, ao menos, que não tem motivo para pensar assim?
Os riscos são imensos, porque a verdade nunca se sabe onde está, como nos lembra "Anatomia de um Crime" (TCM, 0h25; livre). É preciso ao menos acreditar que se busca por ela, e não que se pretende ocultá-la.


Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia
Próximo Texto: José Simão: Ueba! Vamos desencapetar o planeta!
Índice