São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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Clube, discreto, funciona desde 1934

especial para a Folha

Qualquer fã do jazz que vê o pequeno luminoso sobre o toldo desbotado, quase escondido no nº 178 da 7ª Avenida, em Nova York, chega a duvidar que ali funciona o mitológico Village Vanguard.
A má impressão deixada pela escada estreita, que parece conduzir a um porão, só começa a desaparecer quando se vê na parede as fotos de vários músicos.
Thelonious Monk, Dexter Gordon e Miles Davis, entre outros, são personagens essenciais na história desse clube de jazz, o mais antigo da cidade.
Quando começou a funcionar, na noite de 26 de fevereiro de 1934, ainda na Charles Street, o Vanguard era somente um ponto de encontro de artistas e escritores, que frequentavam o bairro boêmio do Village.

O dono

Seu proprietário -Max Gordon, um imigrante da Lituânia, que se radicara em Nova York, oito anos antes, com planos de estudar direito- não demorou a definir um estilo para a casa.
Max passou a ocupar o minúsculo palco com músicos e artistas talentosos, mas ainda desconhecidos, como o cantor folk Woody Guthrie, o bluesman Leadbelly, a cantora e atriz Eartha Kitt e o comediante Woody Allen.
A definição pelo jazz só aconteceu em meados dos anos 50, época em que Miles Davis, Dizzy Gillespie, Charles Mingus, Art Blakey e Gerry Mulligan e outras feras do gênero passaram a se apresentar no Village Vanguard com frequência.
Desde então, quase todos os grandes nome do jazz ali estiveram.

Meca

Nas últimas cinco décadas, a aura do clube nova-iorquino proporcionou sessões musicais extraordinárias, que felizmente ficaram registradas em discos de mestres como Coltrane, Sonny Rollins e Bill Evans, com a grife "Live at the Village Vanguard".
Foi ali, por exemplo, que o saxofonista Dexter Gordon (1923-1990) comemorou seu retorno aos EUA, em 1976, depois de passar 14 anos na Europa, quase esquecido.
A repercussão do disco "Homecoming: Live at the Village Vanguard" ajudou Dexter a reconquistar seu status de astro.
Além das temporadas regulares com medalhões do jazz, outra atração especial do clube era a vibrante Thad Jones-Mel Lewis Orquestra, "big band" que ocupou seu palco todas as segundas-feiras entre os anos de 1966 e 1990.
A resistência de Max Gordon frente aos modismos musicais ajuda certamente a explicar o fato de esse clube de jazz ter durado tanto tempo. Ao defender a qualidade musical antes de tudo, o Village Vanguard tornou-se a Meca do jazz nova-iorquino. (CC)



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