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LIVROS/LANÇAMENTOS
"LITERATURA BRASILEIRA HOJE"
Livro condensa informação e toque crítico
Contemporâneos ganham mapa de áreas de influência
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Traçar um panorama didático da "Literatura Brasileira
Hoje" -este o título do livro de
Manuel da Costa Pinto para a coleção "Folha Explica"- é tarefa
cheia de armadilhas. Cumpre ser
objetivo e conciso, não omitir nenhum nome importante, dar
idéia ao leitor leigo das principais
tendências literárias dos últimos
50 anos. Mas também é necessário fazer juízos de valor, selecionar, excluir -para que o limite de
150 páginas dessa coleção de bolso não seja ultrapassado. Importa
ainda, num meio literário restrito
como o brasileiro, não se render a
favoritismos nem a preconceitos.
Por vários anos editor da revista
literária "Cult" e agora colaborador da Folha na seção "Rodapé",
Manuel da Costa Pinto adquiriu
bastante experiência nesse campo
eivado de suscetibilidades, carências, camaradagens e achaques.
Diga-se desde logo que o autor
desta resenha é citado no livro de
forma favorável, ainda que breve.
O livro se estrutura em verbetes
de cinco ou seis parágrafos, dedicados a autores individuais: 30
poetas, do veterano Manoel de
Barros a Tarso de Melo (nascido
em 1976) e 30 prosadores, de
Lygia Fagundes Telles aos nomes
da "Geração 90".
Outra possibilidade seria organizar o panorama em capítulos
mais longos, conforme as diferentes "famílias" de escritores: a literatura feminina, a poesia marginal, os herdeiros de Rubem Fonseca ou do concretismo... Mas
Costa Pinto compatibilizou o sistema onomástico, mais prático
para a consulta, com o mapeamento das áreas de influência dos
autores escolhidos, encontrando
assim o jeito de falar de mais de
um escritor por verbete.
Há espaço igual para autores já
célebres -Dalton Trevisan, Luiz
Fernando Veríssimo, Ferreira
Gullar- e nomes para os quais a
atenção do público começa a se
voltar -Age de Carvalho, Marçal
Aquino, Marcelo Mirisola. Apontar desequilíbrios e omissões não
é tão fácil quanto parece. Observo
que Ariano Suassuna e Millôr Fernandes mereceriam mais que três
ou quatro linhas, e que o livro não
contempla o gênero da biografia,
dos mais vigorosos nas últimas
décadas.
Cada parágrafo condensa invejável quantidade de informações,
às quais não faltam sutis, precisos
toques de valoração crítica. Note-se o tom positivo com que Costa
Pinto finaliza seu verbete sobre
Ferreira Gullar: "Essa poesia combina rigor e objetividade ao rés-do-chão com abismo existencial e
perspectiva histórica (...), obra
que hoje só encontra paralelo no
lirismo violento do português
Herberto Hélder".
Compare-se a isto o "sinal de
menos" que, com elegância, o autor apõe a Adélia Prado, cuja religiosidade "está longe dos êxtases,
do mysterium tremendum dos
grandes místicos cristãos -assim
como também está distante das
erupções estéticas dos grandes renovadores da linguagem literária,
que ela contempla à distância:
"[...] tudo que invento já foi dito/
nos dois livros que eu li:/ as escrituras de Deus,/ as escrituras de
João./ Tudo é Bíblias. Tudo é
Grande Sertão.'".
Num ponto Adélia Prado parece estar certa. De todos os autores
citados neste "Literatura Brasileira Hoje", não há muito quem se
compare aos grandes nomes do
século passado, como Guimarães
Rosa ou Drummond. Carência
que torna o trabalho de Costa Pinto ainda mais útil e digno de admiração.
LITERATURA BRASILEIRA HOJE.
De
Manuel da Costa Pinto. Editora:
Publifolha. Quanto: 16,90 (150 págs.).
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