São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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"CORPOS PINTADOS"

Oca vira palco para "mulata globeleza"

DA REPORTAGEM LOCAL

A mostra "Corpos Pintados" é um péssimo começo para uma empresa, no caso a CIE, que inicia sua inserção na área de artes visuais. Voltada à indústria do entretenimento, a companhia tem apresentado espetáculos teatrais musicais voltados ao grande público e com padrão de qualidade.
No caso de "Corpos Pintados", há uma imensa discrepância com a ocupação da Oca nos últimos quatro anos e se torna impossível evitar comparações. A BrasilConnects, do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, trouxe para o local exposições memoráveis, organizadas a partir de três princípios: ótimos acervos, como o do Centro Pompidou e da Tate Gallery, uma ocupação ampla do espaço e cenografias para as obras que dialogavam com o local.
Nada disso ocorre com a exposição que introduz a CIE no universo das artes plásticas. A começar pelo espaço: apenas dois andares da Oca são ocupados, dando uma impressão de subaproveitamento do local, que ainda parece malcuidado, com manchas de vazamento no teto, o que nunca tinha sido visto antes.
Depois a cenografia: o uso de painéis, que mais parecem de feira de colégio, empobrece a obra dos artistas em exposição.
Finalmente, o coração do evento em si, que são os trabalhos apresentados: "Corpos Pintados", com curadoria do chileno Robert Edwards, está mais para publicidade do que para arte. No piso superior da Oca, há fotos realizadas por pesquisadores em tribos africanas e asiáticas, registros de como diferentes culturas marcam seus corpos com pinturas. É o caso do norte-americano Thomas Kelly, no Nepal, da inglesa Su Garfinkle, em Papua-Nova Guiné, entre outros. Esses são bons registros etnográficos.
O problema está no andar de baixo, onde os painéis exibem dezenas de fotos de corpos pintados por artistas de várias nacionalidades, inclusive brasileiros. Trata-se de um desfile de efeitos mirabolantes sobre corpos, que ignora a imensa produção artística, especialmente dos últimos 50 anos, tão interessada em problematizar a presença do corpo na sociedade. Passear na mostra "Corpos Pintados" é como ver a "mulata globeleza" de Hans Donner, mas, para entrar na Oca, é preciso pagar R$ 15. (FABIO CYPRIANO)


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