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"CORPOS PINTADOS"
Oca vira palco para "mulata globeleza"
DA REPORTAGEM LOCAL
A mostra "Corpos Pintados"
é um péssimo começo para
uma empresa, no caso a CIE, que
inicia sua inserção na área de artes
visuais. Voltada à indústria do entretenimento, a companhia tem
apresentado espetáculos teatrais
musicais voltados ao grande público e com padrão de qualidade.
No caso de "Corpos Pintados",
há uma imensa discrepância com
a ocupação da Oca nos últimos
quatro anos e se torna impossível
evitar comparações. A BrasilConnects, do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, trouxe para o
local exposições memoráveis, organizadas a partir de três princípios: ótimos acervos, como o do
Centro Pompidou e da Tate Gallery, uma ocupação ampla do espaço e cenografias para as obras
que dialogavam com o local.
Nada disso ocorre com a exposição que introduz a CIE no universo das artes plásticas. A começar pelo espaço: apenas dois andares da Oca são ocupados, dando uma impressão de subaproveitamento do local, que ainda parece malcuidado, com manchas de
vazamento no teto, o que nunca
tinha sido visto antes.
Depois a cenografia: o uso de
painéis, que mais parecem de feira de colégio, empobrece a obra
dos artistas em exposição.
Finalmente, o coração do evento em si, que são os trabalhos
apresentados: "Corpos Pintados",
com curadoria do chileno Robert
Edwards, está mais para publicidade do que para arte. No piso superior da Oca, há fotos realizadas
por pesquisadores em tribos africanas e asiáticas, registros de como diferentes culturas marcam
seus corpos com pinturas. É o caso do norte-americano Thomas
Kelly, no Nepal, da inglesa Su
Garfinkle, em Papua-Nova Guiné,
entre outros. Esses são bons registros etnográficos.
O problema está no andar de
baixo, onde os painéis exibem dezenas de fotos de corpos pintados
por artistas de várias nacionalidades, inclusive brasileiros. Trata-se
de um desfile de efeitos mirabolantes sobre corpos, que ignora a
imensa produção artística, especialmente dos últimos 50 anos,
tão interessada em problematizar
a presença do corpo na sociedade.
Passear na mostra "Corpos Pintados" é como ver a "mulata globeleza" de Hans Donner, mas, para
entrar na Oca, é preciso pagar R$
15.
(FABIO CYPRIANO)
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