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CRÍTICA/"MENINAS"
Filme discute tema pelos aspectos políticos e sociais
Diretora volta
ao gênero que marcou o início de sua carreira depois de três incursões pelo mundo ficcional
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PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
É pelo caminho da delicadeza que Sandra Werneck
conduz "Meninas", um documentário de simplicidade apenas aparente, capaz de tecer olhares complexos sobre um
tema de relevância inquestionável. De volta ao gênero que
marcou o início de sua carreira
depois de três incursões pela
ficção, a diretora se debruça sobre a questão
da gravidez na adolescência optando por
uma aproximação focada.
Sandra quer discutir aspectos políticos e
sociais da questão, fato evidente na escolha das quatro
meninas que a câmera vai
acompanhar pelo tempo de uma gestação,
todas moradoras de comunidades pobres do Rio de Janeiro.
Não é a gravidez em adolescentes de classe média ou alta que
lhe interessa.
A política penetra no filme
pelas bordas, não pelo centro, o
que cria riquezas e limitações.
Ao priorizar a vida das personagens e a transformação de
seus cotidianos a partir da notícia de que estão esperando
uma criança, Sandra evita que
se tirem conclusões apressadas
e generalizantes. A partir do
particular observam-se repetições e pontos em comum que
dão uma boa dimensão do
contexto em que essas gravidezes estão inseridas, sem transformá-las em meros "sintomas". Esse mesmo olhar é capaz de revelar, também, singularidades e questões pessoais
que têm papel tão importante
na questão da gravidez precoce
quanto o "meio social".
Ao mesmo tempo em que
evita os riscos da sociologia barata, a opção pelo particular gera uma ambigüidade ou, pelo
menos, uma suposta isenção
política que pode ser vista como uma certa limitação. "Meninas" não se aprofunda nas
razões de ordem cultural e política que, ao longo do tempo,
transformaram o planejamento familiar em assunto tabu.
Pouco se fala da postura influente da igreja, principalmente a católica, em relação ao uso de preservativos e ao aborto; tampouco se aborda o problema de fundo histórico que tem emperrado o desenvolvimento de políticas públicas
ligadas à questão, desde que a ditadura militar implementou um programa de controle da natalidade de fundo malthusiano autoritário.
Movido pela idéia de que só se diminui a pobreza diminuindo-se o número de pobres, esse programa incluiu a realização de operações de esterilização involuntárias em hospitais públicos. Essa postura gerou uma situação perversa que está profundamente ligada à
questão da educação e da saúde
pública no Brasil e ao acesso
privilegiado à informação que
impera até mesmo nas idéias
de "esquerda". Esses problemas são apenas tangenciados
pelo filme, mas nem por isso
"Meninas" perde impacto.
Meninas
Direção: Sandra Werneck
Produção: Brasil, 2005
Onde: em cartaz no Cine Bombril e no
Frei Caneca Unibanco Arteplex
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