|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MODA
No Metropolitan, anglofilia é discutida por meio de modelos de corte relidos por estilistas como Alexander McQueen
Valores ingleses inspiram mostra em NY
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Do choque entre passado e presente, tradição e transgressão,
nostalgia e rompimento, surgiu a
mais nova exposição no Metropolitan Museum of Art de Nova
York (www.metmuseum.org): a
"Anglomania", que explora, pela
ótica da moda moderna, a fixação
em valores ingleses, da jardinagem ao punk.
Em sete salas, quase escondidas
no setor de arte medieval, foram
reproduzidos, com móveis e decoração, famosos salões da corte
inglesa dos séculos 16, 17 e 18, com
citações de "anglófilos" como
Voltaire e Goethe.
Nelas, manequins exibem trajes
de época ao lado de reinterpretações de grandes estilistas como
Vivienne Westwood e Alexander
McQueen. Cada sala traz um "tema inglês", desde o conflito de
classes dickensiano até o culto à
morte da rainha Victoria.
À porta da exposição, o casaco
batido da bandeira britânica cedido por David Bowie (design de
McQueen, de 1996) e o "audio
tour" de John Rotten (Sex Pistols)
explicando as origens utilitárias
dos símbolos punk (o alfinete, por
exemplo) e seu culto à "mona-anarquia" dão o tom.
O salão mais dramático justapõe o gentleman, o dândi e o
punk. Sob baixa iluminação, os
manequins surgem com ternos
flanelados, de risca-de-giz, da
Burberry's ou H. Huntsman &
Sons, ao lado de punks com topetes moicanos montados a partir
de pernas de Barbie, arame farpado ou absorventes.
"A estética atávica e brutal premiada no punk foi um paradigma
na moda, introduziu a linguagem
do pós-modernismo da mesma
forma que o dandismo introduziu
a linguagem do modernismo",
explicam os curadores Andrew
Bolton e Harold Koda.
Um dos móveis em destaque é
uma cama do século 17, do estilo
usado como símbolo de grandeza
nas cortes em funerais. Na exposição, inspirou uma cena de "leito
de morte", que exibe um vestido
original da rainha Victoria de
1862 com criações macabras de
Alexander McQueen e do joalheiro Shaun Leane. O destaque vai
para o corselete de esqueleto prateado, preso no corpo como costelas e com uma espinha dorsal
exposta.
Francofilia
Os dois trajes de baile de gala
mais suntuosos brincam com a
influência estilística francesa dentro da onda anglomaníaca. Na reprodução de um salão inglês "à la
française", que pode ser visto apenas pelas duas portas laterais, há
um vestido de tafetá preto de John
Galliano para a Christian Dior.
Para completar, sapatos Manolo Blahnik e um chapéu de corvo,
que inspira a trilha sonora bizarra
na sala. O contraste da "tradição"
é um vestido de seda e cetim branco do fim do século 19, decorado
com figuras de veludo preto.
Os dois salões principais exploram a caça e os bailes, com as jaquetas masculinas rubro-negras,
tanto tradicionais como redesenhadas por Vivienne Westwood
ou John Galliano.
Trajes de baile dos dois estilistas, assim como de McQueen,
abordam o tema da excentricidade -termo cunhado no vernáculo inglês por volta de 1770 que denota exagero na feminilidade,
com grandes penteados e toalete
extravagante.
Sem muita apuração histórica,
os trajes exageram as silhuetas femininas, com corseletes e crinolinas. Entre os contrastes, há um
modelito de estampa de jornal de
Galliano, uma homenagem aos
tablóides.
Os vestidos da coleção de Hussein Chalayan de 2002 dominam a
cena armada numa reprodução
de escadaria do século 17. Ilustrando a relação patrão-servente
aristocrática, um majestoso vestido com cauda de 1888 representa
o lado patronal.
Abaixo, modelitos modernos,
fazem a paródia da roupa repassada aos empregados, à base de
tecidos nobres castigados, como
seda, tule e renda, montados em
camadas no estilo desconstruído.
Texto Anterior: HQ: Lançamentos revigoram o terror Próximo Texto: Nelson Ascher Índice
|