São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MODA

No Metropolitan, anglofilia é discutida por meio de modelos de corte relidos por estilistas como Alexander McQueen

Valores ingleses inspiram mostra em NY

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Do choque entre passado e presente, tradição e transgressão, nostalgia e rompimento, surgiu a mais nova exposição no Metropolitan Museum of Art de Nova York (www.metmuseum.org): a "Anglomania", que explora, pela ótica da moda moderna, a fixação em valores ingleses, da jardinagem ao punk.
Em sete salas, quase escondidas no setor de arte medieval, foram reproduzidos, com móveis e decoração, famosos salões da corte inglesa dos séculos 16, 17 e 18, com citações de "anglófilos" como Voltaire e Goethe.
Nelas, manequins exibem trajes de época ao lado de reinterpretações de grandes estilistas como Vivienne Westwood e Alexander McQueen. Cada sala traz um "tema inglês", desde o conflito de classes dickensiano até o culto à morte da rainha Victoria.
À porta da exposição, o casaco batido da bandeira britânica cedido por David Bowie (design de McQueen, de 1996) e o "audio tour" de John Rotten (Sex Pistols) explicando as origens utilitárias dos símbolos punk (o alfinete, por exemplo) e seu culto à "mona-anarquia" dão o tom.
O salão mais dramático justapõe o gentleman, o dândi e o punk. Sob baixa iluminação, os manequins surgem com ternos flanelados, de risca-de-giz, da Burberry's ou H. Huntsman & Sons, ao lado de punks com topetes moicanos montados a partir de pernas de Barbie, arame farpado ou absorventes.
"A estética atávica e brutal premiada no punk foi um paradigma na moda, introduziu a linguagem do pós-modernismo da mesma forma que o dandismo introduziu a linguagem do modernismo", explicam os curadores Andrew Bolton e Harold Koda.
Um dos móveis em destaque é uma cama do século 17, do estilo usado como símbolo de grandeza nas cortes em funerais. Na exposição, inspirou uma cena de "leito de morte", que exibe um vestido original da rainha Victoria de 1862 com criações macabras de Alexander McQueen e do joalheiro Shaun Leane. O destaque vai para o corselete de esqueleto prateado, preso no corpo como costelas e com uma espinha dorsal exposta.

Francofilia
Os dois trajes de baile de gala mais suntuosos brincam com a influência estilística francesa dentro da onda anglomaníaca. Na reprodução de um salão inglês "à la française", que pode ser visto apenas pelas duas portas laterais, há um vestido de tafetá preto de John Galliano para a Christian Dior.
Para completar, sapatos Manolo Blahnik e um chapéu de corvo, que inspira a trilha sonora bizarra na sala. O contraste da "tradição" é um vestido de seda e cetim branco do fim do século 19, decorado com figuras de veludo preto.
Os dois salões principais exploram a caça e os bailes, com as jaquetas masculinas rubro-negras, tanto tradicionais como redesenhadas por Vivienne Westwood ou John Galliano.
Trajes de baile dos dois estilistas, assim como de McQueen, abordam o tema da excentricidade -termo cunhado no vernáculo inglês por volta de 1770 que denota exagero na feminilidade, com grandes penteados e toalete extravagante.
Sem muita apuração histórica, os trajes exageram as silhuetas femininas, com corseletes e crinolinas. Entre os contrastes, há um modelito de estampa de jornal de Galliano, uma homenagem aos tablóides.
Os vestidos da coleção de Hussein Chalayan de 2002 dominam a cena armada numa reprodução de escadaria do século 17. Ilustrando a relação patrão-servente aristocrática, um majestoso vestido com cauda de 1888 representa o lado patronal.
Abaixo, modelitos modernos, fazem a paródia da roupa repassada aos empregados, à base de tecidos nobres castigados, como seda, tule e renda, montados em camadas no estilo desconstruído.


Texto Anterior: HQ: Lançamentos revigoram o terror
Próximo Texto: Nelson Ascher
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.