São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Colker coloca "insetos" no Cirque

Popular trupe canadense ganha coreografia da carioca Deborah Colker, "Ovo", que estreou na quarta

Espetáculo tem 53 acrobatas-insetos e trilha com samba e forró; "Ela é algo a se entender", diz diretor sobre coreógrafa


ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A MONTREAL

Elétrica, rouca e de unhas roídas até a carne, Deborah Colker não escondia a ansiedade a poucos minutos da estreia oficial de "Ovo", na última quarta, em Montreal (Canadá).
Pudera: não bastasse ser a primeira mulher e a primeira brasileira a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil, a coreógrafa teve nas mãos a tarefa de criar o show de aniversário de 25 anos da popular franquia canadense.
"Estou exausta, tive de brigar muito, mas não me arrependo de nada", dizia, antes da apresentação.
Quando as luzes se acenderam, o palco foi invadido por uma comunidade de insetos coloridos, que ensaiavam passinhos de dança entre os números acrobáticos da trupe.
O recheio era uma comédia teatral, com a história de amor entre um bicho azul indecifrável e uma gorda joaninha.
No total, "Ovo" apresenta 13 números com os tradicionais contorcionistas, malabaristas, trapezistas e equilibristas.
São 53 acrobatas-insetos em cena, às vezes todos ao mesmo tempo -a diretora não quis usar nenhum dançarino, preferindo ensinar os ginastas a se movimentarem a seu ritmo.
A marca do Cirque du Soleil está lá, com o fulgor de seu entretenimento popular e colorido. Mas não é só o nome, em português, que trai o dedo de Colker no show. Para começar, a ideia de usar insetos como personagens é dela, e possivelmente o melhor casamento entre a diretora e a trupe.
"O tema da biodiversidade veio pronto. Pensei em insetos por causa da relação com os corpos e a acrobacia", afirma.
O gosto do Brasil fica evidente com a trilha sonora, que é carregada de percussão e viaja de samba e forró a funk carioca.
E a assinatura da coreógrafa fica inconfundível no último ato, que mostra uma evolução performática da parede de alpinismo que ficou famosa com o espetáculo "Velox" (1995), da Companhia Deborah Colker. Agora ela tem 8 m e tem apoio de camas elásticas.
No entanto, a inspiração não veio só de casa. O número "Creatura" chegou pronto do grupo de mímica e teatro de máscaras suíço Mummenschanz -só que o bicho elástico acabou dançando o ritmo paraense carimbó.

Conflitos
Ainda assim, dá para ver que não foi fácil fundir uma trupe de escala industrial e marca forte com a direção da carioca.
Ela conta algumas vitórias, como as de levar seu cenógrafo, Gringo Cardia, e diretor musical, Berna Ceppas, para uma superprodução que costuma privilegiar canadenses.
Mas também teve "de ceder em muitas coisas" e listou semanas insones. Gilles Ste-Croix e Guy Laliberté, diretores artísticos, barraram experiências e até inseriram atos de última hora. "Às vezes eu queria matar o Gilles, não conseguia nem falar "oi"; outras vezes o amava", conta Colker.
Os canadenses também cederam. "Deborah Colker não é qualquer uma", disse Ste-Croix. "Ela é algo a se entender. Mas trouxe muita energia para os personagens."
Na quarta, o resultado agradou: a casa lotada aplaudiu de pé os insetos circenses.

Texto Anterior: Ellus abre multimarcas de olho no exterior
Próximo Texto: Espetáculo fará turnê por 15 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.