|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Colker coloca "insetos" no Cirque
Popular trupe canadense ganha coreografia da carioca Deborah Colker, "Ovo", que estreou na quarta
Espetáculo tem 53 acrobatas-insetos e trilha com samba e forró; "Ela é algo a se entender", diz diretor sobre coreógrafa
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A MONTREAL
Elétrica, rouca e de unhas
roídas até a carne, Deborah
Colker não escondia a ansiedade a poucos minutos da estreia
oficial de "Ovo", na última
quarta, em Montreal (Canadá).
Pudera: não bastasse ser a
primeira mulher e a primeira
brasileira a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil, a coreógrafa teve nas mãos a tarefa
de criar o show de aniversário
de 25 anos da popular franquia
canadense.
"Estou exausta, tive de brigar
muito, mas não me arrependo
de nada", dizia, antes da apresentação.
Quando as luzes se acenderam, o palco foi invadido por
uma comunidade de insetos coloridos, que ensaiavam passinhos de dança entre os números acrobáticos da trupe.
O recheio era uma comédia
teatral, com a história de amor
entre um bicho azul indecifrável e uma gorda joaninha.
No total, "Ovo" apresenta 13
números com os tradicionais
contorcionistas, malabaristas,
trapezistas e equilibristas.
São 53 acrobatas-insetos em
cena, às vezes todos ao mesmo
tempo -a diretora não quis
usar nenhum dançarino, preferindo ensinar os ginastas a se
movimentarem a seu ritmo.
A marca do Cirque du Soleil
está lá, com o fulgor de seu entretenimento popular e colorido. Mas não é só o nome, em
português, que trai o dedo de
Colker no show. Para começar,
a ideia de usar insetos como
personagens é dela, e possivelmente o melhor casamento entre a diretora e a trupe.
"O tema da biodiversidade
veio pronto. Pensei em insetos
por causa da relação com os
corpos e a acrobacia", afirma.
O gosto do Brasil fica evidente com a trilha sonora, que é
carregada de percussão e viaja
de samba e forró a funk carioca.
E a assinatura da coreógrafa
fica inconfundível no último
ato, que mostra uma evolução
performática da parede de alpinismo que ficou famosa com o
espetáculo "Velox" (1995), da
Companhia Deborah Colker.
Agora ela tem 8 m e tem apoio
de camas elásticas.
No entanto, a inspiração não
veio só de casa. O número
"Creatura" chegou pronto do
grupo de mímica e teatro de
máscaras suíço Mummenschanz -só que o bicho elástico
acabou dançando o ritmo paraense carimbó.
Conflitos
Ainda assim, dá para ver que
não foi fácil fundir uma trupe
de escala industrial e marca
forte com a direção da carioca.
Ela conta algumas vitórias,
como as de levar seu cenógrafo,
Gringo Cardia, e diretor musical, Berna Ceppas, para uma
superprodução que costuma
privilegiar canadenses.
Mas também teve "de ceder
em muitas coisas" e listou semanas insones. Gilles Ste-Croix e Guy Laliberté, diretores
artísticos, barraram experiências e até inseriram atos de última hora. "Às vezes eu queria
matar o Gilles, não conseguia
nem falar "oi"; outras vezes o
amava", conta Colker.
Os canadenses também cederam. "Deborah Colker não é
qualquer uma", disse Ste-Croix. "Ela é algo a se entender.
Mas trouxe muita energia para
os personagens."
Na quarta, o resultado agradou: a casa lotada aplaudiu de
pé os insetos circenses.
Texto Anterior: Ellus abre multimarcas de olho no exterior Próximo Texto: Espetáculo fará turnê por 15 anos Índice
|