São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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OPINIÃO

Trama do SBT segue cronologia de historiadores consagrados

TIAGO SANTIAGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fernando de Barros e Silva cometeu nova série de erros em sua segunda avaliação da novela "Amor e Revolução".
O crítico se mostrou desatento ao afirmar que "o início (da novela) se passa no dia do golpe".
O primeiro capítulo na verdade começa com legenda grande e clara -janeiro de 64- simbolizando que já havia pessoas na época querendo sim fazer guerrilha no Brasil, assim como também já havia o embrião do que depois veio a ser o Comando de Caça aos Comunistas; e termina no 1º de abril de 1964, no incêndio da UNE.
Diz velho ditado que "errar é humano", porém Fernando de Barros e Silva insiste no erro, ao tentar desqualificar a pesquisa da história, na novela. A tortura em 1964 não foi tão forte como depois do AI-5, isso é sabido, e a novela vai abordar o tema quando chegar lá.
Porém houve, no ano do golpe, mais de 200 casos de denúncias, conforme se lê na pág.382, "Cronologia 1964", em "A Ditadura Envergonhada", de Elio Gaspari.
As torturas infligidas ao sexagenário Gregório Bezerra são exatamente as mesmas que sofre na novela o líder camponês Geraldo Cordeiro, interpretado magistralmente por Claudio Cavalcanti. Casos reais inspiram cada capítulo da novela, como o caso do Coronel Alfeu Monteiro, da Base Aérea de Canoas; a morte do sargento Edu Barreto Leite; a carta da filha do Almirante Aragão, publicada por Carlos Heitor Cony, relatando a tortura sofrida por seu pai; as reportagens de Marcio Moreira Alves; o "navio presídio" Raul Soares; e a Missão Ernesto Geisel, que foi uma resposta do governo militar à campanha da época contra tortura, entre outros diversos fatos.
Os capítulos passados de 1965 a 1967 mostrarão muito menos torturas, na ficção como na realidade. A novela não erra por desconhecimento da história, como faz o crítico, por ser fruto de pesquisa de meses de mestre em sociologia, com revisão atenta da historiadora Ilka Hempfinger, e principalmente por seguir a cronologia de historiadores consagrados, como Carlos Fico e Elio Gaspari. Capítulo a capítulo, os personagens ficcionais e simbólicos comentam, vivem ou reagem a fatos marcantes da história do Brasil, na época da ditadura militar, apresentando-os a milhões de brasileiros. Quem "empastela" a história não é a novela nem o autor, e sim o crítico.
Nos capítulos da semana que se passou, foram abordados, por exemplo, o adiamento das eleições para presidente e o decreto de extinção da UNE, entre outros fatos históricos de 1964.
A novela continuará a mostrar a resistência ao regime militar, com exemplos como a coluna do coronel Jefferson Cardim e o treinamento de guerrilheiros em Cuba, em 1965; a tentativa de estabelecimento da guerrilha de Caparaó, que durou até 1966; e o começo da guerrilha urbana, em 1967.
Quanto à dramaturgia, inspirada em Romeu e Julieta e também em Hamlet, entre outros clássicos, não creio que um editor de política e atualidades, como Fernando de Barros e Silva, seja a pessoa mais adequada para avaliar. Tenho saudade da crítica que não se propunha apenas a demolir, como a que é feita comumente hoje, e sim a investigar propósitos e construtivamente questionar caminhos, como a crítica de Sábato Magaldi e Ian Michalski, no Teatro, ou Artur da Távola, na TV.
Estamos apenas começando, teremos quase duas centenas de capítulos da novela, que vai ficar no ar no mínimo até dezembro, tempo suficiente para demonstrar sua qualidade, subir na audiência e ajudar a firmar a fábrica de novelas do SBT, única atuante em São Paulo, no momento.
TIAGO SANTIAGO é autor de "Amor e Revolução" (SBT, seg. a sex., 22h15).


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