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LITERATURA
"The Time of Our Time" confirma a condição do autor americano
Mailer é narrador do mal-estar
em Nova York
Gore Vidal, a um só tempo o
grande rival (a briga de ambos no
talk-show de Dick Cavett em 1971
é um dos deleites de "The Time of
Our Time") e o maior companheiro de viagem literária de Mailer, deve estar rindo sozinho. "Ele
é todo fragmentos e partes", provocou o autor de "Duluth" num
ensaio devastador de 1960.
"The Time of Our Time" seria a
prova definitiva. De certa forma o
é, mas não exatamente da tese
maior de Vidal.
"Não estou certo, afinal, de que
ele deveria ser uma romancista, ou
mesmo um escritor, apesar dos
dotes formidáveis", sustentava
Vidal. A instabilidade ideológica e
emocional, a busca irrefreável da
fama e a irregularidade da produção ficcional de Mailer justificariam a esnobada.
Vidal acertava no transitório e
errava no essencial. A fórmula do
crítico David Denby num ensaio
recente em "The New Yorker"
parece mais justa, ainda que algo
exagerada no sentido inverso:
"Mailer, que é provavelmente o
mais aventureiro e esbanjador de
talento escritor americano do
pós-guerra, saiu de moda quando
recusou a ironia e o jogo pós-modernista. Por meio de todas suas
mudanças, ele se manteve um cronista social à moda de Balzac e um
empenhado patriota, devassador
do coração do país".
A auto-retrospectiva literária de
Mailer revalida a velha fórmula:
suas melhores páginas como ficcionista ("Os Nus e os Mortos",
"A Canção do Carrasco") estão
carregadas do poder de convicção
da grande reportagem; seus mais
marcantes textos jornalísticos
("Os Exércitos da Noite", "The
Fight") cativam o leitor como literatura de rara intensidade.
Assumindo erros e acertos, literários e pessoais, "The Time of
Our Time" confirma Mailer como
um dos maiores narradores do
mal-estar americano deste último
meio século. Já ninguém espera
dele o romance-síntese da civilização "made in USA". Ele ainda
promete a versão definitiva de
"Harlot's Ghost", a CIA segundo
Norman Mailer. Entregue-a ou
não, o jovem autor de "Os Nus e
os Mortos" pode ter a certeza da
missão cumprida.
(AMIR LABAKI)
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