São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

Carreira de brilho

Em "Profissão de Risco", Johnny Depp atua com Penélope Cruz na pele do traficante George Jung

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

George Jung, o homem cuja vida é interpretada por Johnny Depp em "Profissão de Risco", estava relutante em liberar os direitos sobre sua história, porque achava que não interessaria a outras pessoas. Jung, que cumpre pena por tráfico de drogas numa prisão de Nova York até 2014, foi convencido pelo diretor Ted Demme quando ouviu que essa seria uma boa ocasião para abrandar o coração de sua filha.
Kristina, a filha em questão -vivida em uma das fases do filme por Emma Roberts, sobrinha da Julia de quem empresta o sobrenome-, decepcionada com a vida bandida que o pai escolheu, não fala com ele há mais de dez anos. "Não existe nada que George deseje mais intensamente do que isso", disse à Folha o diretor Ted Demme, 37, que passou meses visitando Jung na prisão antes e durante as filmagens. "Ficamos muito amigos, até porque é quase impossível resistir ao carisma desse homem", contou Demme, que dedicou seis anos de sua vida a colocar o filme em produção.
Em 1995, depois de ler sobre a vida de Jung, Demme começou a se corresponder com ele na prisão. "A história me comoveu por falar de um período de transformações importantes na sociedade americana, da inocência ao cinismo, da maconha à cocaína."
George Jung é um garoto de classe média e vida ordinária, que nasceu em uma pequena cidade americana, de onde saiu para introduzir a cocaína em larga escala nos Estados Unidos e se tornar o braço direito do colombiano Pablo Escobar. "Poderia ter feito com a minha vida o que George fez com a dele", disse o protagonista Depp, 37, à Folha, em Los Angeles. "Passei a adolescência flertando com drogas e tráfico. Quando comecei a atuar, o dinheiro fácil me abriu ainda mais possibilidades", afirmou.
Mas seu passado não condena; ao contrário, fascina. Por causa dele, Depp, cujo personagem visita quatro décadas, indo dos 20 aos 60 anos de idade, no que, visualmente, só pode ser descrito como um show de horror de perucas extravagantes, foi a primeira escolha de Ted Demme para o papel.

Apologia
Por falar de uma época em que a cocaína era servida em festas como se fosse caviar ou champanhe, "Profissão de Risco" foi acusado de enaltecer o uso da droga, crítica que a espanhola Penélope Cruz, objeto de afeição do personagem de Depp, combate. "Não teria aceitado o papel se a mensagem fosse glamourizar a cocaína", disse à Folha a anorexicamente magra Cruz. "O que me atraiu foi a falta de uma lição no final; não há sermões, não há definição clara entre o bem e o mal."
Ray Liotta, que interpreta o pai de George, vai ainda mais longe. "Se o filme for recebido como espero, deverá estimular discussões sobre a legalização." E Liotta aproveita para dar sua opinião. "Se por um lado a liberação não acabaria com o problema, por outro, não poderia piorá-lo e tiraria o tabu que existe sobre a droga, o ponto de partida para aguçar a curiosidade adolescente."
Em entrevista à televisão estatal americana, Jung, 61, disse que "é necessário que o público entenda que, mesmo quando eu tinha tudo na vida, na verdade estava perdido e me perguntando se aquilo não era de fato o inferno".
Quanto a Kristina, o lançamento do filme não foi capaz de sensibilizá-la. "George não perdeu a esperança. Todos os dias ele acorda e se arruma para recebê-la", disse Demme.


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