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5º FÓRUM INTERNACIONAL SOFTWARE LIVRE
Evento no Centro de Convenção da PUC-RS teve público de 2.000 pessoas
Debate evidencia falta de modelos para música digital
LUÍS NASSIF
COLUNISTA DA FOLHA
Eram 2.000 pessoas, 2.000 hobbits no salão central do Centro de
Convenção da PUC-RS, no debate
"Creative Commons" do 5º Fórum Internacional Software Livre
(SL). O tema da mesa eram os novos sistemas de direito autoral
que estão sendo estudados para a
era da internet. Participando do
debate, estava o ministro da Cultura, Gilberto Gil. Mas os gurus da
tribo eram outros, como Jon
Maddog Hall, com suas longas
barbas brancas, considerado o
maior "hacker" do mundo.
No meio do SL, "hackers" são os
Robin Hoods que utilizam seu talento para democratizar a informação. "Crackers" são os momentaneamente desviados para o
caminho do mal, por falta de um
modelo econômico adequado para trabalharem.
Professor de direito de propriedade intelectual de Stanford, o advogado Lawrence Lessing se ilumina ao abrir o encontro: "Venho
da terra da liberdade, da livre iniciativa, do comércio livre e até no
livre-arbítrio. Quando se fala em
software livre e em cultura livre, a
comemoração da liberdade desaparece". São 2.000 jovens ouvindo-o, com suas roupas desengonçadas de hacker, mas pouquíssimos fones de tradução simultânea nos ouvidos. A tribo é brasileira, mas é internacional.
Há algum tempo o Congresso
americano aumentou de 70 para
90 anos os direitos de propriedade intelectual. Em jogo, estava a
imagem de Mickey Mouse, mas
também de milhares de filmes e
obras artísticas que, liberadas do
jugo do copyright, poderiam se
espalhar pelo mundo. Foi movida
uma ação contra a decisão do
Congresso, defendida por Lessing
na Suprema Corte. Mas a extensão do copyright foi mantida por
sete votos a dois.
Partiu-se, então, para a criação
do "creative commons", o direito
que tem o artista de definir os limites de liberação da sua obra.
Hoje em dia, mesmo que o artista
queira liberar sua obra para o público, ou mesmo para remixagem,
as leis impedem.
Lançado nos EUA, o movimento angariou um milhão de adeptos no primeiro ano. Ou seja, não
decolou. A idéia, então, foi levar a
tese para outros países. E aí Lessing se deparou com um país como o Brasil, onde se casam perfeitamente o movimento de SL e a
música. Foi Gil quem inspirou o
advogado a desenvolver o conceito de licença de combinação pela
qual o músico concede o direito a
qualquer pessoa de utilizar uma
amostra da música, até para utilização comercial, desde que não
copie, mas que remixe, misture e
dissemine a cultura.
Lessing olha para a multidão
dos pequenos "hackers" que o
ouvem em silêncio obsequioso:
"Vocês têm que nos lembrar do
que perdemos. Perdemos ideais,
valores, que mandamos para todo
o mundo. Chegou a hora de vocês
nos ensinarem isso de novo". O
auditório quase vem abaixo.
O grande enigma é qual o modelo de negócios que emergirá
desse caos criativo. Professor de
direito em Harvard, William Fischer discorda da visão de que o
artista nada deveria cobrar pela
obra e ganhar através dos shows.
Dessa maneira, a arte seria condicionada pelo showbiz, diz. É crítico também em relação ao iTunes,
o sistema de venda digital da Apple, porque exclui pessoas que
não queiram pagar por cópias.
Sua proposta seria uma espécie
de imposto para a cultura, de renda ou de criação, que seria distribuído para os artistas de acordo
com o acesso às suas obras. Pode-se oferecer serviços por sites privados, com uma versão premium
a taxas mais modestas, e cobrar
por serviços mais sofisticados, como sistemas de pesquisa.
Mas fica claro, a partir do debate, que até agora não existem modelos de negócio adequados. O
sociólogo Hermano Vianna narrou algumas experiências de música brega em Belém, na qual os
artistas definem seu repertório
em computadores e o utilizam para animar bailes na cidade. E também os camelôs do Rio que, graças à era digital, estão criando canais alternativos para os CDs engavetados, cada camelô se especializando em gêneros distintos.
Mas, obviamente, são formas de
comercialização ainda pré-mercado e pré-era digital. Sabe-se que
tem um universo pela frente a ser
explorado. Mas o caminho das
pedras ainda não foi encontrado.
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