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Morte do zagueiro Escobar é destaque em festival londrino
"O Gol contra de Escobar" documenta o assassinato do jogador colombiano em 1994; diretor norte-irlandês usa futebol para narrar trajetórias de países
MARCELO STAROBINAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE LONDRES
"Gol, gol, gol, gol!" A cada grito de gol, 12 vezes ao todo, o atirador disparou uma bala sobre
o corpo de Andrés Escobar. O
zagueiro da seleção colombiana de futebol caiu morto na
frente de uma discoteca de Medellín em julho de 1994.
Seu erro fatal foi cometido
dez dias antes. Um gol contra.
Na Copa do Mundo. A desclassificação da Colômbia após a
derrota por 2 a 1 para a seleção
americana já teria sido um castigo duro o bastante. Mas a sede
de sangue do narcossubmundo
colombiano cobrou de Escobar
um sacrifício maior.
O trágico fim do jogador é
uma das fantásticas histórias
de futebol narradas nos documentários do diretor norte-irlandês Michael Hewitt. Há
mais de 20 anos, o sócio fundador da produtora DoubleBand
Films, de Belfast, tem rodado o
planeta à caça de tramas do
mundo esportivo em que, via
de regra, a realidade ganha contornos de ficção.
Rodado em 1997 e exibido no
ano seguinte pelo Channel
Four britânico, "Escobar's
Own Goal" (o gol contra de Escobar) foi um dos destaques do
Kicks N Flicks (www.kicksnflicks.co.uk), o 1º Festival Internacional de Cinema de Futebol, que termina hoje em
Londres.
Entre os 16 longas de ficção e
documentários da mostra, Hewitt produziu ou dirigiu outros
três filmes: "Maradona: Kicking the Habit" (Maradona: se
livrando do vício, numa tradução livre), "Rwanda FC" e "Beckham and the Battle with Argentina" (Beckham e a batalha
com a Argentina).
Um fator comum às histórias
colecionadas pelo diretor é o
uso da paixão futebolística como fio condutor para narrar as
trajetórias de povos ou países
(como Ruanda e Colômbia), ou
pessoas, no caso de Maradona.
"O futebol ainda não ocupa o
espaço que deveria nas telas
dos cinemas", reclama Matthew Couper, um dos produtores responsáveis pelo festival
Kicks N Flicks.
"Trata-se da melhor manifestação dramática improvisada no mundo, com histórias de
conquista e frustração, não
apenas dos jogadores mas também dos torcedores."
Michael Hewitt afirma que o
desafio do cineasta é "conseguir encontrar histórias que sejam do interesse dos fãs de futebol, mas também de um público mais amplo".
"A história do Escobar é um
bom exemplo disso, em que pegamos uma história que de fato
aconteceu dentro de campo e
acabou levando a um assassinato. Foi uma história que nos
disse muito sobre a Colômbia e
a sociedade colombiana."
O diretor conta que não procurou fazer um documentário
investigativo sobre a autoria da
morte de Escobar. Os produtores preferiram apresentar as
três principais teorias sobre o
crime.
A primeira fala sobre um assassinato premeditado, a mando daqueles que perderam dinheiro de apostas com a Copa.
A segunda tese sustenta que
o assassinato teria sido resultado de um bate-boca de porta de
discoteca na madrugada. "Já
eram 3h, começaram um bate-boca com Escobar, acusando-o
de ter feito um gol contra e ter
decepcionado todo o país. Teria sido apenas uma discussão
que se tornou violenta", explica
Hewitt sobre essa hipótese.
"Ao final do filme, mostramos que isso fazia parte da tragédia da vida em Medellín. O
homem que o baleou era um
guarda-costas de condenados
por narcotráfico. Eram peixes
pequenos, mas criminosos assim mesmo. Além disso, na
noite em que Escobar morreu,
outras 39 pessoas foram assassinadas em Medellín."
No ano passado, 11 anos após
os 12 "gols" que disparou contra Escobar, o guarda-costas
Humberto Muñoz Castro foi libertado da prisão por bom
comportamento. E as ameaças
de morte continuam sendo lugar-comum no futebol colombiano.
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