São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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Morte do zagueiro Escobar é destaque em festival londrino

"O Gol contra de Escobar" documenta o assassinato do jogador colombiano em 1994; diretor norte-irlandês usa futebol para narrar trajetórias de países

MARCELO STAROBINAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE LONDRES


"Gol, gol, gol, gol!" A cada grito de gol, 12 vezes ao todo, o atirador disparou uma bala sobre o corpo de Andrés Escobar. O zagueiro da seleção colombiana de futebol caiu morto na frente de uma discoteca de Medellín em julho de 1994.
Seu erro fatal foi cometido dez dias antes. Um gol contra. Na Copa do Mundo. A desclassificação da Colômbia após a derrota por 2 a 1 para a seleção americana já teria sido um castigo duro o bastante. Mas a sede de sangue do narcossubmundo colombiano cobrou de Escobar um sacrifício maior.
O trágico fim do jogador é uma das fantásticas histórias de futebol narradas nos documentários do diretor norte-irlandês Michael Hewitt. Há mais de 20 anos, o sócio fundador da produtora DoubleBand Films, de Belfast, tem rodado o planeta à caça de tramas do mundo esportivo em que, via de regra, a realidade ganha contornos de ficção.
Rodado em 1997 e exibido no ano seguinte pelo Channel Four britânico, "Escobar's Own Goal" (o gol contra de Escobar) foi um dos destaques do Kicks N Flicks (www.kicksnflicks.co.uk), o 1º Festival Internacional de Cinema de Futebol, que termina hoje em Londres.
Entre os 16 longas de ficção e documentários da mostra, Hewitt produziu ou dirigiu outros três filmes: "Maradona: Kicking the Habit" (Maradona: se livrando do vício, numa tradução livre), "Rwanda FC" e "Beckham and the Battle with Argentina" (Beckham e a batalha com a Argentina).
Um fator comum às histórias colecionadas pelo diretor é o uso da paixão futebolística como fio condutor para narrar as trajetórias de povos ou países (como Ruanda e Colômbia), ou pessoas, no caso de Maradona.
"O futebol ainda não ocupa o espaço que deveria nas telas dos cinemas", reclama Matthew Couper, um dos produtores responsáveis pelo festival Kicks N Flicks.
"Trata-se da melhor manifestação dramática improvisada no mundo, com histórias de conquista e frustração, não apenas dos jogadores mas também dos torcedores."
Michael Hewitt afirma que o desafio do cineasta é "conseguir encontrar histórias que sejam do interesse dos fãs de futebol, mas também de um público mais amplo".
"A história do Escobar é um bom exemplo disso, em que pegamos uma história que de fato aconteceu dentro de campo e acabou levando a um assassinato. Foi uma história que nos disse muito sobre a Colômbia e a sociedade colombiana."
O diretor conta que não procurou fazer um documentário investigativo sobre a autoria da morte de Escobar. Os produtores preferiram apresentar as três principais teorias sobre o crime.
A primeira fala sobre um assassinato premeditado, a mando daqueles que perderam dinheiro de apostas com a Copa.
A segunda tese sustenta que o assassinato teria sido resultado de um bate-boca de porta de discoteca na madrugada. "Já eram 3h, começaram um bate-boca com Escobar, acusando-o de ter feito um gol contra e ter decepcionado todo o país. Teria sido apenas uma discussão que se tornou violenta", explica Hewitt sobre essa hipótese.
"Ao final do filme, mostramos que isso fazia parte da tragédia da vida em Medellín. O homem que o baleou era um guarda-costas de condenados por narcotráfico. Eram peixes pequenos, mas criminosos assim mesmo. Além disso, na noite em que Escobar morreu, outras 39 pessoas foram assassinadas em Medellín."
No ano passado, 11 anos após os 12 "gols" que disparou contra Escobar, o guarda-costas Humberto Muñoz Castro foi libertado da prisão por bom comportamento. E as ameaças de morte continuam sendo lugar-comum no futebol colombiano.


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