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Fórmula garante sucesso de "Gloriosa"
Dramaturgia de autor inglês Peter Quilter e toque brasileiro de Marília Pêra são destaques da comédia
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
A comédia musical pode
ser um gênero irresistível, principalmente
quando se estrutura em boa
dramaturgia. "Gloriosa" tem
todos os ingredientes de um espetáculo vitorioso.
A começar pela dramaturgia
do inglês Peter Quilter. Várias
de suas criações recentes tornaram-se fenômenos de público e foram traduzidas para dezenas de línguas. "Gloriosa", de
2005, estourou em Londres e já
foi produzida até na Finlândia.
O segredo de Quilter é ser fiel
à fórmula da "peça bem-feita",
inventada no século 19 pelo
francês Eugene Scribe, outro
campeão de bilheterias: prepare uma situação, prolongue-a
até um momento crítico e escape dela com uma reviravolta
sensacional.
Todas essas credenciais prévias do texto encontram as
mãos treinadas da dupla incansável formada por Charles
Möeller e Cláudio Botelho, responsáveis pela adaptação, direção musical e encenação.
Mais uma vez, eles mostram
compreensão da maquinaria
cênica e fazem bom uso dos recursos disponíveis para vestir o
espetáculo com elegância.
Sem contar com as clássicas
canções norte-americanas, e as
animações de fotos da mulher
que inspira a personagem central, a excêntrica milionária
Florence Foster Jenkins.
Ninguém melhor do que eles
para capturar o estranho glamour dessa personagem em favor da teatralidade.
Mas quem dá a marca verdadeiramente brasileira do espetáculo é Marília Pêra, evocando
a tradição das grandes atrizes
do nosso teatro popular como
Estela Sezefreda, no século 19,
e Conchita e Dulcina de Moraes, no século 20.
Marília, de algum modo, sintetiza essa linhagem histriônica que remete ao circo e não teme o ridículo, e a escola moderna erguida com base na técnica
e nos temas elevados.
No espetáculo, ela funde os
dois planos, combinando a fala
educada e os modos de grã-fina
da personagem, com seus desempenhos grotescos como
cantora. Só quem já encarnou
Dalva de Oliveira e Maria Callas poderia envergar sem peias
a voz de Florence Jenkins.
Destaque-se que o mérito
maior é mesmo do dramaturgo.
Convicto de que o erro alheio é
o primeiro passo para o riso,
descobriu o patético dessa personagem real. De tanto se expor às gargalhadas, na inocência de sua completa falta de talento, ela conquistou a glória de
uma trajetória trágica.
GLORIOSA
Quando: qui. e sáb., às 21h; sex., às
21h30; dom., às 18h; até 2/8
Onde: Teatro Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, Cerqueira César, tel. 0/
xx/11/3083-4475)
Quanto: R$ 70 a R$ 90
Classificação: não recomendado para
menores de 12 anos
Avaliação: bom
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