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O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, durante seu programa de TV

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local

Ratinho está caindo na ratoeira que ele próprio armou. A ratoeira é acionada quando fracassam as promessas de que os problemas mostrados ali serão resolvidos. O resultado do fracasso é que a desgraça se eleva ao cubo.
Veja o caso de Rute Queiroz, 43, que diz ter perdido tudo o que acumulou em 18 anos após aparecer no programa.
Auxiliar de cozinha desempregada, foi morar no Morro do Macaco, em Cotia (Grande São Paulo), onde sua filha começou a namorar um traficante.
O traficante acabou assassinado pelos próprios companheiros. Logo em seguida, decidiram matar a garota de 16 anos porque ela sabia demais. Com medo da polícia, Rute foi ao "Ratinho Livre", o programa de Carlos Massa na Record.
"Foi a minha destruição", diz Rute. A destruição, segundo ela, decorreu de um escorregão do programa. Rute não queria que seu rosto aparecesse na tela, no que foi atendida, nem que mostrassem o barraco e a favela em que vivia, o que não ocorreu, segundo ela.
Com a exibição da favela, os traficantes não tiveram dúvidas de que era Rute a autora da denúncia. Retaliaram furtando tudo o que ela tinha no barraco -da geladeira ao fogão, dos documentos à enciclopédia que havia comprado para os filhos.
"Eu já pensei em acabar com a minha vida porque o programa do Ratinho acabou comigo. Tudo o que tenho é um cobertor", diz Rute.
O caso de Rute é extremado, mas não é único. O próprio Ratinho sabe disso, só que prefere não ver os episódios revelados.
"Se você fizer uma reportagem dessa, você vai destruir o meu programa!", disse em entrevista à Folha. "Você vai contar que as pessoas são maltratadas no programa."

"Mentirosa"
O diabo não são os eventuais maus tratos do programa, como os de que a comerciária Maria Luiza Fernandes Braga, 35, diz ter sido vítima. É o que ocorre depois.
Maria Luiza foi ao "Ratinho Livre" contar que era agredida pelo marido. Saiu de Macaé (RJ) com duas filhas e foi colocada numa instituição de assistência social na qual as meninas apanharam de uma madre, segundo ela.
Na hora do programa, Maria Luiza viu os papéis se inverterem. Ratinho passou a achincalhá-la, dizendo que sua denúncia era mentirosa, apesar de as meninas trazerem marcas no corpo.
"Fiquei como mentirosa para o país inteiro. Ninguém me dá emprego", diz Maria Luiza.
Ratinho não tem dúvidas -diz que a produção do programa investigou a denúncia e concluiu que ela era mentirosa.
A acusação mais frequente contra Ratinho, porém, é a das promessas não cumpridas, segundo três participantes do programa.
Teresa Rocha Campos, 38, foi ao programa porque numa briga com o marido ficou sem a Belina 79 com que vendia cachorro quente. Segundo ela, a produção do programa prometeu dar-lhe um carro com carrocinha e advogado para tentar reaver um sobrado que ficou com o marido.
Depois do programa, Teresa acabou expulsa de casa e ficou só com a roupa do corpo. Como Rute e seus três filhos, foi alojada num hotel de prostituição no centro de São Paulo, onde a produção do programa hospeda os convidados de "Ratinho Livre".
"Na TV, o Ratinho é um anjo. Mas quando você vai cobrar as promessas da produção, você é humilhada, me chamaram de vagabunda", diz. Na última sexta-feira, ela foi expulsa do hotel onde ficou por três meses pela produção do programa.
"Disseram que eu era folgada e estava falando demais", conta.
Mesmo quem elogia Ratinho diz que ele não cumpre as promessas que faz. É o caso de Andineuza Ramos Ponce, 25, que teve os dois olhos furados pelo marido e cujo caso impôs a maior derrota de audiência na história recente da Globo. A tragédia alcançou 37 pontos no Ibope, contra nove da Globo.
Andineuza foi operada por médicos providenciados pela produção do programa, mas diz que até hoje não recebeu a ajuda financeira que Ratinho prometeu.
Tem três filhos, vive no interior do Mato Grosso e passa fome quando os moradores da cidade não lhe dão cestas básicas.
Ratinho diz não fazer promessas. Diz que tira dinheiro de seu salário para dar ou repassa o que recebe de empresas.