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BIA ABRAMO
A simplicidade dos célebres
Dupla de patricinhas do
"Simple Life" brasileiro copia o programa original americano
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É TUDO igual, exceto o que é diferente. A versão brasileira de
"Simple Life", que estreou semana passada, segue o original como
se fosse um script, mesmo no que,
em tese, seria espontâneo. O que é
estranho, em se tratando de um reality show. O episódio de estréia repetiu as mesmíssimas situações do
programa estrelado por Paris Hilton
e Nicole Richie. "Sem cartão de crédito, sem celular, sem noção", diz a
chamada cá e lá. A idéia era, como é
aqui, colocar duas moças mimadas,
de cidade grande, para passar um
tempo em uma fazenda e enfrentar
condições de vida muito diferentes
das quais estão acostumadas.
As moças compram indiscriminadamente para se despedirem de seus
cartões de crédito, e os preços exorbitantes das bolsinhas e sapatinhos
são destacados na tela da TV. Na
chegada, de avião particular, em vez
de uma recepção, elas encaram uma
caminhonete para chegar à fazenda
e, entre muitos gritinhos, erram o
caminho, o veículo morre e prosseguem os gritinhos. E por aí vai.
A diferença é que, de fato, as moças
americanas são celebridades porque
são milionárias -uma, herdeira do
grupo hoteleiro Hilton; a outra, filha
do cantor Lionel Richie- de vida extravagante, e, aqui, são celebridades
ponto. Ticiane é aquela, filha de Helô
"Garota de Ipanema" Pinheiro, que
se casou com Roberto Justus, o rico
que brinca de apresentador de reality show. Karina Bacchi garantiu
seu lugar no hall da fama fazendo
propagandas de cerveja ao lado do
"baixinho da Kaiser" e leiloando seu
piercing genital.
Claro, essas duas duplas são feitas
mais ou menos do mesmo barro: toda aquela beleza e saúde que o consumo pode comprar, o desprezo pelos que não têm os mesmos privilégios, uma ignorância profunda em
relação ao mundo real e o horror ao
trabalho. Embora tudo isso seja genuíno tanto para as patricinhas
americanas quanto para as brasileiras, no segundo caso, há uma nota
mais falsa e estridente. Natural: falsas milionárias, elas se representam
nas duas pontas. O fato de a versão
da Record ter optado por assumir a
cópia também bane qualquer espontaneidade, o que talvez fosse a única
possibilidade de olhar com alguma
simpatia para o programa.
E por não falar em Paris Hilton, a
melhor coisa da TV na semana retrasada foi a imagem da apresentadora
da MSNBC que se recusou a ler a notícia sobre a saída de Paris Hilton da
prisão, dizendo "eu odeio essa história". Em seguida, tentou queimar e
depois picou o papel no qual estava a
matéria. Tudo isso ao vivo; tudo isso
no YouTube.
biabramo.tv@uol.com.br
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