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Rodin à baiana
Museu Rodin abrirá em outubro na Bahia com três anos de atraso e peças emprestadas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bahia virou motivo de piada ao criar um museu Rodin
que tinha só quatro peças em
bronze do escultor francês. O
governo baiano, que bancara o
projeto, prometera trazer 62
esculturas para a inauguração
do museu, em dezembro de
2006, que nunca chegaram.
Agora a piada pode perder a
validade. O museu deve ser
inaugurado na primeira semana de outubro, segundo o secretário de Cultura do governo da
Bahia, Márcio Meirelles.
Entre as peças que virão para
Salvador estão edições em gesso de "O Pensador", de "O Beijo" e estudos feitos para a "Porta do Inferno", um dos trabalhos mais famosos de Rodin
(1840-1917). O governo baiano
queria ter uma versão em bronze da "Porta", mas o preço inviabilizou a ideia: custaria 15
milhões, o equivalente a cerca
de R$ 41 milhões. O conjunto
monumental custaria mais do
que o prédio do museu, que
custou R$ 15 milhões.
Para quem torceu o nariz para o fato de as edições serem
em gesso, o artista plástico e
curador Emanoel Araújo avisa
que era esse o material que Rodin escolheu para a versão duradoura das esculturas, já que o
material original, a terracota,
esfacela com o tempo.
O atraso de três anos tem pelo menos três razões, segundo
Meirelles. No projeto original,
o governo baiano se comprometia a comprar as peças de
Rodin -o que não aconteceu. A
secretaria de Cultura gastará
cerca de R$ 700 mil no transporte e no seguro das obras. As
peças foram emprestadas pelo
governo francês por um prazo
de três anos: depois disso, terão
de vir outras esculturas.
As outras razões são mais comezinhas: o museu não tinha
um diretor com formação em
museologia, como exige a legislação francesa, e a climatização
não foi aprovada pelos técnicos
daquele país.
Sucesso de público
A ideia de abrir uma espécie
de filial do museu Rodin em
Salvador partiu de Jacques Villain em 2001, quando ele dirigia o museu francês, segundo
Emanoel Araújo. À época, contra todas as previsões, Rodin
tornara-se um artista popular
no Brasil -uma exposição na
Pinacoteca, em 1995, atraiu 150
mil pessoas. Cinco anos depois,
outra mostra de Rodin rodou o
Nordeste (Recife, Fortaleza e
Salvador), com um público final de cerca de 500 mil.
"Em 2001, havia aquela discussão de fazer uma filial do
museu Guggenheim no Rio. O
Jacques ficou encantado com
Salvador e falou: "Bem que a
gente podia fazer um museu
Rodin aqui". Falei com ACM [o
senador Antonio Carlos Magalhães] e ele adorou a ideia".
No ano seguinte, foi assinado
um acordo de cooperação entre
a França e a Bahia para a construção do museu. Um casarão
neoclássico francês, construído
em 1912, foi escolhido como sede. Um projeto arquitetônico
de Marcelo Ferraz e Francisco
Fanucci restaurou o palacete e
o que era para ser um depósito
acabou virando uma ala contemporânea, feita em concreto
-o projeto levou o primeiro
prêmio na Bienal de Arquitetura de São Paulo de 1997.
"Esse museu demorou tanto
para sair do papel por causa do
chauvinismo dos baianos", diz
Araújo. "Eles acham meio estranho ter um museu Rodin na
Bahia".
Novo projeto
A demora na abertura provocou mudanças no projeto do
museu. Originalmente, deveria
abrigar obras de Rodin e de escultores brasileiros do século
19, "que estão completamente
esquecidos", segundo Araújo.
O foco agora é outro. Segundo Meirelles, o museu tem três
objetivos pelo menos: formar
público, fazer com que Rodin
faça sentido para quem vive na
Bahia e reconectar a arte baiana ao resto do mundo. "A Bahia
vive isolada, como se fosse uma
ilha autossuficiente. Isso não
faz sentido".
A diretora técnica do museu,
a museóloga Heloisa Helena
Costa, diz que pretende enfatizar o caráter social e pedagógico da instituição. "Será um museu que vai privilegiar o aspecto
pedagógico com o objetivo de
construir uma cultura da paz".
Costa afirma que seria equivocado pensar que uma cidade
que tem laços óbvios com a
África, como é o caso de Salvador, não possa se interessar por
um artista francês do final do
século 19 como Rodin.
"O fato de Rodin trabalhar
com o corpo apaga essas diferenças", diz a museóloga. "Há
um culto ao corpo aqui que remete a Rodin. Dá para ver nas
ruas de Salvador vários Rodin
de carne e osso".
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