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OPINIÃO
O circo foi genuinamente emocionante
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Havia Michaels para todos os discursos na cerimônia de despedida.
Era só chamar seu nome e ele
estava lá. Gênio e maior showman da Terra, segundo o chefão
da Motown, Berry Gordy. Ídolo
de músicos como Stevie Wonder e Smokey Robinson. MJ como símbolo do empoderamento negro, homenageado pelos
herdeiros políticos de Martin
Luther King. O pequeno príncipe, amigo da princesinha Brooke Shields. O melhor pai do
mundo, segundo a filha.
Que haveria circo, como disse a musa inspiradora e amiga
Elizabeth Taylor, não podia haver muita dúvida. O espetáculo
era parte integrante da vida de
MJ e não haveria de estar ausente justo no epílogo. A atenção global também era mais do
que esperada -ele, afinal, era o
mundo, a criança, aquele que
fazia o dia mais luminoso.
Como se fosse "o" show para
ficar no lugar dos 50 que ele
não pôde cumprir, a cerimônia
foi cuidadosamente pensada e
coreografada. A família devidamente uniformizada com óculos escuros. Os irmãos com as
famosas luvas. As crianças dele
sem panos a ocultá-las. Tudo
isso parecia estar no script.
Mas era bem mais difícil prever que fosse genuinamente
emocionante. Que ver os irmãos enlutados, os Jacksons
restantes, fosse tocante. Que
rever o inacreditável chapéu
rosa que ele usava 40 anos atrás
no programa de Ed Sullivan fizesse relembrar a vontade de
namorar Michael Jackson que
eu tinha aos 11 anos, quando
ouvia "Music and Me". Que
soasse justa a homenagem a
MJ como um símbolo da grandeza da música pop negra nos
Estados Unidos, cujo papel é
fundamental para que a América tenha hoje Obama.
Aquilo que pegou muita gente, eu inclusive, de calças curtas
foi a tristeza de verdade causada por sua morte, para além de
qualquer cinismo midiático. Na
cerimônia de ontem, por algum
daqueles fenômenos pop inexplicáveis, o artifício que cercou
sua vida pôde ser ao menos parcialmente abandonado. E, desta forma, havia ali também um
Michael para cada tristeza. Inclusive a minha. E a sua.
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