Dirigido por Kusturica, "Maradona" retrata o astro do futebol como um ator de talento para humor e tragédia

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

A discussão sobre o melhor jogador da história rende conversas intermináveis e inconclusivas. Mas, depois da Copa 2010 e do documentário "Maradona" (2008), não restam dúvidas: o argentino é, ao mesmo tempo, o melhor personagem e o melhor ator do futebol.
Dirigido pelo sérvio Emir Kusturica ("Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios", "Underground - Mentiras da Guerra"), o filme revela um homem muito mais articulado e reflexivo do que faz supor a imagem folclórica cristalizada em torno dele.
Mais do que isso: deixa entrever um intérprete com perfeita noção da presença das câmeras, de seu talento para o espetáculo, de sua vocação para o humor e a tragédia (com exceção dos momentos em que as drogas lhe roubam a consciência).
Isso fica patente tanto nas imagens de arquivo, que mostram um Maradona moleque afirmando que seu maior desejo é ganhar uma Copa do Mundo, quanto nas entrevistas do cineasta com o futebolista, em que este se assume como um ator.
No título original, o filme se chama "Maradona by Kusturica". Na prática, isso significa que o diretor é também uma das estrelas do documentário e aparece quase tanto quanto o seu personagem principal. Em alguns momentos, essa opção atrapalha o filme: a comparação entre passagens da vida de Maradona e cenas de filmes de Kusturica é artificial, quase narcísica.
Por outro lado, o caráter expansivo e meio falastrão do cineasta ajuda a deixar o jogador mais à vontade. É um encontro de semelhantes, embora o gênio de Maradona à frente da câmera seja maior que o de Kusturica atrás dela.