São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011 |
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CRÍTICA ROMANCE Após espanto inicial, história honra a ternura e comove o leitor JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA É difícil a prosa portuguesa para um leitor brasileiro. A prosódia é muito distinta e abundam tempos verbais mais-que-perfeitos e pessoas outras que não apenas a primeira e a terceira. Lê-se um autor vibrante de contemporaneidade feito valter hugo mãe e parece que lemos um contemporâneo de Eça ou Machado. Faltam-lhes gerúndios e indigenismos para que soe normal. Superado o sotaque de português de novela inicial de "a máquina de fazer espanhóis", fui tomado pela voz de silva, o narrador. Ele, silva, 84, sobreviveu a laura, morta recentemente, e foi internado num asilo de nome infame, feliz idade. Lá, silva reencontra a amizade e acerta contas com o passado. Dono de curioso espírito multitudinário, refaz seus passos como se sopesasse erros de toda uma geração, num exercício de autoanálise das idas e vindas do século passado em Portugal. O salazarismo, o fascismo passivo da classe média, o complexo de inferioridade diante dos espanhóis, tudo isso revê o pobre silva como se fosse um Cristo das mazelas e patologias nacionais. Mitigada a culpa, de sob a capa da amargura ressurge esse bálsamo que é a amizade por meio de um desfile de personagens surpreendentes. Entre eles, há esteves. Mito dos corredores do asilo, esteves diz ser o mesmo Esteves que habita os versos do poema "Tabacaria", de Fernando Pessoa, a quem verdadeiramente conheceu no suposto estabelecimento. É o "Esteves sem metafísica". Ode à "iminência do desaparecimento", o romance também é um elogio à dissolução dos sentidos, pois "é bem-visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não entremos em pânico". Prosa de poeta que honra a ternura e não se envergonha do poder de comoção, "a máquina de fazer espanhóis" habilita a perscrutar "o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres" de que falava Pessoa e o "Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada". JOCA REINERS TERRON é autor de "Do Fundo do Poço se Vê a Lua " (Cia. das Letras) A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS AUTOR valter hugo mãe EDITORA Cosac Naify QUANTO R$ 39 (256 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: 9ª Festa Literária Internacional de Paraty: Crise portuguesa inspira romance de valter hugo mãe Próximo Texto: Sledge recria caso entre Bishop e brasileira Índice | Comunicar Erros |
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