São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011

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CRÍTICA NOVELAS

Carrère elabora estranheza com situações corriqueiras

EDITOR DA PUBLIFOLHA

Em relação à França, muitos julgam que a produção literária do país está em fastidiosa decadência. Mas não se poderia dizer o mesmo de outras nações? E não é a literatura em si que parece estar em acelerado declínio? A literatura perdeu o lugar proeminente que ocupava na cultura. Melhor é colocar de lado a nostalgia e conferir, com rigor, o que a atualidade nos oferece de relevante.
Na França, existe um agitado ambiente literário, em grande parte desconhecido por aqui. Entre os destaques, está Emmanuel Carrère.
Tanto assim, que seus principais livros já ganharam tradução: "O Adversário" (2000), pela Record, "Um Romance Russo" (2007) e "Outras Vidas que Não a Minha" (2009), pela Alfaguara.
Esta mesma editora lança duas obras mais antigas do autor reunidas num só volume: "O Bigode" (1986) e "A Colônia de Férias" (1995).
Após estes livros, fez uma curiosa travessia: abandonou a ficção e adotou, a partir de "O Adversário", um método em que a linguagem romanesca se coloca a serviço da narração de experiências reais e fatos autobiográficos.
"O Bigode" e "A Colônia de Férias" são ficções no sentido estrito. A primeira novela se aproxima do nonsense, ao sondar a psique de um homem que tira o bigode e mergulha em crise de identidade; a segunda beira o terror psicológico ao descrever os fantasmas de mutilação de um menino de sete anos.
Há interessante unidade entre os livros. O autor desentranha a estranheza de situações corriqueiras. O leitor se depara com personagens vacilantes, que não sabem como separar verdade e mentira, alucinação e realidade.
Há também diferenças entre eles. Com seu intrincado diagrama, onde se cruzam infância e crime, banalidade e pesadelo, sexo e medo, "A Colônia de Férias" resulta numa novela mais forte.
Em "O Bigode", Carrère se coloca desafios tão complicados que se confunde no próprio labirinto. Aos poucos, perde a engenhosidade narrativa, o gosto de surpreender e a capacidade de perturbar com seu humor absurdo.
(ALCINO LEITE NETO)

O BIGODE/A COLÔNIA DE FÉRIAS

AUTOR Emmanuel Carrère
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO André Telles
QUANTO R$ 39,90 (264 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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