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Um dos mais influentes críticos musicais, Simon Reynolds vem ao Brasil participar de debate
Pensamentos pop
ADRIANA FERREIRA
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Se há alguém para quem meio
mundo dá ouvidos, esse alguém é
o jornalista Simon Reynolds, 42.
Autor de dois livros-referência
("Energy Flash: A Journey
through Rave Music and Dance
Culture", de 98, um histórico das
raves e da dance music; e "Rip it
Up and Start Again: Post Punk
1978-1984", de 2005, sobre o período pós-punk), o inglês é dos
críticos pop mais lidos do mundo.
Reynolds vem ao Brasil participar de um debate (quinta, às 19h,
na Indie Records, tel. 0/xx/11/
3816-1220) promovido pelo festival Campari Rock, evento que começa hoje com festas em clubes
de São Paulo e que dá a largada
para a movimentada agenda de
shows do país (veja abaixo).
A Folha conversou com Reynolds sobre grime, estilo parente
do rap e do drum'n'bass, de rimas
agressivas e batidas quebradas, do
qual é entusiasta, sobre os rumos
da eletrônica e sobre o pós-punk
-acima, veja as dicas de discos
de Reynolds para os três gêneros.
Folha - Você fala bastante, em
seu blog (blissout.blogspot.com),
sobre o grime e a cena que envolve
o estilo. Qual a relação entre o grime e o ambiente social?
Simon Reynolds - O grime é feito
por jovens do leste e do sul de
Londres, de famílias pobres e que
deixaram a escola cedo, não tiveram oportunidades. E na Inglaterra, para alguém que não cursou
universidade, o melhor que se pode arrumar é um emprego numa
loja, algo sem futuro. É uma cena
extremamente competitiva. Poucos artistas de grime conseguem
viver bem. É um cenário inspirador, mas, ao mesmo tempo, com
um gosto agridoce, pois não há
oportunidade para esses talentos.
Folha - Você fez uma conexão entre os recentes ataques terroristas
de Londres e o grime, do ponto de
vista do multiculturalismo...
Reynolds - Um dia estava lendo
o [jornal] "Guardian" e vi fotos de
vítimas dos ataques. Havia muitos negros, asiáticos, africanos,
muçulmanos, gente do Leste Europeu... Londres é uma cidade incrivelmente multicultural, e o grime é assim. As fotos me lembraram de uma festa em que a hostess perguntava: "Quem é da Jamaica? Quem é da Índia?". O grime é fruto desse multiculturalismo. As pessoas têm medo disso.
Folha - Além de grime, o que
mais, na eletrônica, é inovador?
Reynolds - A dance music tornou-se muito grande, alguns "superstars DJs" achavam que estariam no topo para sempre, fizeram discos auto-indulgentes. Nos
EUA, há alguns anos, um DJ como Sasha arrastaria 20 mil pessoas. Hoje, não. Aqui nos EUA,
muita gente ouve folk-psicodélico, parece que eles estão mais excitados com isso do que com a eletrônica. Mas há muita coisa acontecendo. Há coisas boas vindo da
Alemanha, como a dupla Tiefschwarz ou gente do selo Kompakt.
Folha - Você chegou a falar sobre
crise na eletrônica, sobre sua massificação. Mas isso não seria um sintoma de amadurecimento?
Reynolds - Sim, há esse aspecto.
Um dos problemas é que a eletrônica se dividiu em muitos subgêneros e está ficando cada vez mais
complicada, sofisticada... Estamos num período de redefinição
de idéias já existentes. Muito do
que se faz é releitura do passado.
Mas sou otimista.
Folha - E sobre o rock retrô, de
bandas como White Stripes?
Reynolds - Quando ouvi falar deles, de que só usavam equipamentos antigos, não gostei nem um
pouco. Mas, depois que ouvi algumas canções, tive que admitir que
realmente são bons.
Folha - Pode-se dizer que no começo dos 90 a eletrônica foi um gênero rebelde?
Reynolds - Era rebelde até certo
ponto. Claro, havia uma sensação
boa de ir a uma fazenda para ouvir música, curtir com seus amigos, tomar ecstasy... Aquilo era
excitante, mas depois se tornou
duro quando a polícia começou a
proibir esses eventos.
Folha - Em seu novo livro, o pós-punk é descrito como um dos períodos mais ricos da história do rock.
Por que aquelas bandas não tiveram reconhecimento?
Reynolds - Depende, algumas
bandas se tornaram grandes: Depeche Mode, U2, Joy Division,
Simple Minds. O pós-punk foi um
período de experimentos, de
combinar rock com idéias de dance, disco, funk. O Gang of Four
nunca vendeu milhões de discos,
mas teve influência em bandas
como Red Hot Chili Peppers.
Folha - E o conteúdo político na
música das bandas do pós-punk?
Reynolds - Não eram bandas de
trabalhadores, mas de boêmios de
classe média. Não era um movimento, mas uma oposição cultural. O pós-punk foi até mais radical do que o punk. Havia um buraco entre o que aquelas bandas
pensavam e o que fazia o resto da
sociedade; havia uma polarização
de idéias. Muitos músicos eram
anticapitalistas, marxistas, feministas. Não era uma ideologia, era
uma atitude de questionamento.
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