São Paulo, quarta-feira, 08 de agosto de 2007

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Mostra traz origens do cinema

Títulos de 1912 a 1930 terão sessões grátis na Cinemateca Brasileira, a partir desta sexta até dia 19/8

Músicos como Antonio Pinto, André Abujamra e Arrigo Barnabé recriam, ao vivo, trilha dos longas, feitos antes do cinema sonoro

Divulgação
A atriz russa Alla Nazimova vive o papel-título de "Salomé"


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Diz o texto de Oscar Wilde: "Ela mata o que ama. Ela ama o que mata. O amor é um mistério maior do que a morte".
É com essa introdução sobre a personagem e seu destino que começa "Salomé", longa realizado em 1923 por Charles Bryant, a partir da obra de Wilde, e com a diva russa Alla Nazimova no papel-título.
É com esse filme de Bryant que a Cinemateca Brasileira abre, na próxima sexta, sua 1ª Jornada do Cinema Silencioso, com a qual propõe ao espectador uma reflexão sobre o amor pelos filmes, a "morte" do cinema mudo e o mistério que envolve a produção desse período inaugural da sétima arte.
Até o próximo dia 19, serão exibidos gratuitamente nas duas salas da Cinemateca 41 filmes realizados entre 1912 e 1930. Um time de 25 músicos se reveza nas sessões, compondo e executando trilhas para as obras em cartaz. Entre eles, estarão o experimental Arrigo Barnabé e os assíduos compositores de trilhas sonoras André Abujamra ("Carandiru") e Antonio Pinto ("Cidade de Deus").
O convite aos músicos para reinventar o "som" dos filmes produzidos antes que o cinema se tornasse sonoro é a forma que a organização da Jornada encontrou para afirmar um de seus pilares conceituais: os filmes do passado têm a capacidade de dialogar com os do presente e até de transformá-los.
"Queremos proporcionar ao espectador o contato com o cinema silencioso, não por uma questão de saudosismo, mas para incentivar a interrogação crítica do passado", diz Carlos Roberto Souza, coordenador da Jornada do Cinema Silencioso (o termo é usado no meio cinematográfico em substituição ao popular "cinema mudo").
Souza acredita que, ao ver as "ousadias" de que foram capazes os primeiros cineastas, o público poderá reconsiderar sua classificação sobre filmes atuais e perceber que "certas vanguardas nem são tão vanguardistas assim".
Ou seja, quando interrogado criticamente, o passado pode trazer descobertas que ajudem a elevar ou a diminuir a estatura de figuras do presente.
A programação da Jornada consta de três grandes blocos -uma vertente da produção alemã do período; títulos da produção pernambucana dos anos 20, conhecida como ciclo do Recife; e filmes norte-americanos, reunidos sob a curadoria do professor Ben Singer, da Universidade de Wisconsin.
"Singer fez uma seleção muito interessante. É um outro cinema americano, que a gente desconhece e que tem o traço comum do "espírito do capitalismo urbano", como ele define", comenta Souza.
No dia 11, dentro da Jornada, Singer dará conferência sobre a aplicação do conceito de modernidade aos estudos de cinema silencioso.
Os filmes norte-americanos vieram ao Brasil emprestados pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Os títulos alemães foram obtidos com a colaboração do Instituto Goethe, e os filmes nacionais pertencem ao acervo da Cinemateca Brasileira, assim como outras raridades, como "A Boneca do Amor" (1916), filme da fase alemã de Ernst Lubitsch, que, quando radicado nos EUA, tornou-se o mestre e a maior influência de Billy Wilder.
Na sessão de abertura, na próxima sexta-feira, antes do longa "Salomé", serão exibidos comerciais de roupas que Greta Garbo fez antes do estrelato e um trecho de um jornal sueco que documenta a volta dela ao seu país natal depois de se tornar uma diva nos EUA.
O curador da fundação sueca Svenska, que emprestou o filmete da inquebrantável GG para a Jornada brasileira, avisou: "Ela chora na volta à Suécia!"
Na sessão de encerramento, será exibida uma cópia colorida de "O Gabinete do Dr. Caligari", pertencente ao Arquivo Nacional do Uruguai. "É um equívoco achar que o filme silencioso era sempre branco e preto. A maior parte é tingida [mergulhada em tintura que colore todo o filme] ou virada [processo em que a cópia do filme é submetida a um "banho" que colore apenas as partes da imagem que não são originalmente nem pretas nem brancas]", diz Souza.


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