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DVD DRAMA
"Intimidade" usa sexo para retratar vazio afetivo atual
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Premiado com o Urso de Ouro em Berlim, "Intimidade" (2001), de Patrice Chéreau, causou certo escândalo ao mostrar cenas de sexo explícito. Mas voyeurs que correram para ver o filme se decepcionaram: o sexo no longa é desprovido do glamour da publicidade e do apelo perverso da pornografia.
O enredo, inspirado no romance homônimo do britânico Hanif Kureishi, é enganosamente simples.
Jay (Mark Rylance), um músico fracassado e atual barman-chefe de um "pub" londrino, recebe em sua casa, às quartas-feiras à tarde, uma mulher (Kerry Fox, também premiada em Berlim) sobre a qual não sabe nada.
No par de horas semanais que passam juntos, eles trocam escassas palavras e fazem um sexo urgente, no chão, semivestidos, em posições incômodas. Não saberemos como se conheceram.
SUPERFICIAL
O que interessa, para o filme, é o que este ponto mínimo de intersecção ilumina da vida de cada um deles e, talvez, das relações interpessoais em nossa época.
Intimidade é o que falta à relação entre os dois amantes e a todas as outras que o filme revela.
Quando o protagonista, insatisfeito com o caráter fragmentário e superficial de seus encontros, decide seguir a parceira para investigar sua vida, tudo desaba.
Chéreau (que dirigiu, entre outros, o bem diverso "Rainha Margot") filma seres truncados, em desacordo com seus corpos e com o ambiente urbano em que vivem.
Mesmo nas cenas externas, nos planos mais abertos, há sempre vultos e objetos obstruindo uma parte do quadro. Falta espaço para respirar, quanto mais para amar.
Um filme terrível, em suma, mas belo e veraz.
INTIMIDADE
LANÇAMENTO Lume
QUANTO R$ 49,90; em média
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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