São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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Crumb e Shelton agradam com dose de mau humor

Autor de "Fritz, o Gato" elogia grupo de rua em Paraty e fala de "Gênesis"

Crumb diz não ser mais tão obcecado por sexo e diverge sobre quando conheceu Shelton por "fumar muita erva"

IVAN FINNOTI
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Na mesa mais concorrida da Flip 2010, que aconteceu ontem à noite em Paraty, os cartunistas norte-americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton divertiram o público por uma hora com tiradas de humor cáustico e histórias da contracultura dos anos 60.
Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha, que mediou a conversa, começou perguntando se era verdade que as mulheres é que haviam obrigado os cartunistas a viajar a Paraty.
Crumb prontamente confirmou, aproveitando para reclamar dos fotógrafos. Já Shelton disse que tinha adorado Paraty.
"É muito pitoresca", disse ele, ao que Crumb respondeu, com seu mau humor lendário: "Há muitas cidades pitorescas no mundo...".
Crumb disse em seguida que ter assistido a um show na rua do grupo Os Curandeiros tinha feito valer a viagem. "Muito melhor que a música que todos os bares de Paraty tocam", completou.

O GRANDE ENCONTRO
Shelton lembrou de quando conheceu Crumb: "Foi em Nova York, em 1969". Mas o colega duvidou: "Acho que foi em San Francisco. Mas fumava muita erva e tomava muito LSD naquela época.
Realmente não lembro...".
Em um momento divertido, Dávila perguntou a Crumb, que carrega tanto nas tintas sexuais em suas histórias, se algo mudara nos últimos anos.
"Agora sou velho, não sou mais tão obcecado com sexo. Na verdade, vejo aquilo e digo: "Jesus, que lunático!". É um pouco embaraçoso." Mesmo assim, Crumb lembrou que amigos comentaram com ele que o Brasil era "a terra prometida para quem gosta de bundas grandes. E é mesmo! E as roupas curtas ajudam". Ao que Dávila informou: "E olha que estamos no inverno".

GÊNESIS
Sobre seu último trabalho, "Gênesis", Crumb contou que a ideia era fazer piadas do primeiro livro da Bíblia.
"Eu nem conhecia as histórias. Mas, depois, vi que eram tão bizarras que resolvi apenas ilustrar, em vez de fazer uma paródia. Após 25 páginas, percebi que era um trabalho enorme. Só terminei quatro anos depois."
Informado de que jornais de Israel haviam publicado resenhas positivas sobre essa obra, Crumb não perdeu a piada: "Vendi o livro pra eles. Foi o menor adiantamento que já recebi".
Gilbert Shelton comentou ainda sobre o andamento de dois filmes baseados em seus quadrinhos, um deles sobre os famosos "Freak Brothers", os quais Shelton disse terem sido parcialmente inspirados nos Três Patetas.
Ainda sobre cinema, Shelton comentou que, se fossem retratá-lo nas telas, gostaria de ser interpretado por Clint Eastwood. "Mel Gibson, então, para mim", sugeriu Crumb.
Ao final da conferência, a mulher de Crumb, Aline, subiu ao palco e destilou um pouco de seu humor: "Obrigada por me chamar aqui em cima. Venho sendo ignorada por Crumb há 40 anos".

FOLHA.com
Acompanhe a cobertura completa da Festa Literária Internacional de Paraty


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