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A redescoberta de Revolver
Dois livros virtuais analisam a importânc ia do disco na carreira dos Beatles; álbum chega aos 40 em plena forma
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Embora não tão incensado
quanto álbuns mais emblemáticos -casos de "Sgt. Pepper's"
(marco zero da psicodelia),
"Rubber Soul" (manual de boas
maneiras do britpop) e "Abbey
Road" (o réquiem)- o disco
que os Beatles lançaram em
1966 aos poucos tem seu papel
redefinido na história do pop.
Ante-sala da fase estúdio do
grupo, "Revolver", 40, é revisitado em duas obras online, que
ajudam a traçar o espectro de
abrangência do disco, ao mesmo tempo em que jogam novas
luzes sobre sua influência.
O primeiro deles é "Abracadabra - The Complete Story of
the Beatles" Revolver", escrito
pelo funcionário do governo inglês Ray Newman nas horas vagas de seu trabalho oficial. "Escrevi isto por diversão", conta
no prefácio. "Não escrevo sobre
música profissionalmente. A
idéia surgiu depois de algumas
perguntas que eu tinha sobre o
disco que seus biógrafos sentem-se felizes em passar por cima. De onde Paul McCartney
tirou a idéia de "Eleanor
Rigby"? Quem ensinou George
Harrison a tocar cítara? E
quem deu LSD para Lennon
pela primeira vez?"
Após uma pesquisa aprofundada sobre os meses que antecederam o lançamento do disco, em 1966, Newman não esperou editora: diagramou seu
livro e o colocou para download
gratuito no site www.revolverbook.co.uk.
"As pessoas parecem saber
tudo o que existe sobre "Sgt.
Pepper's", mas "Revolver" ganha
menos atenção no "Anthology"
(biografia do grupo), por exemplo", explica o escritor.
"Minha grande dúvida era
saber como quatro jovens que
haviam composto "Love Me
Do" quatro anos antes criaram
algo tão excitante, esquisito e
"cool" como "Revolver"."
Ray divide os novos interesses dos três Beatles da frente
em grupos respectivos: Lennon
descobre o ácido lisérgico, Paul
McCartney se aventura pela alta cultura e movimentos de
vanguarda, George Harrison
traz a música indiana. Cada um
destes universos é compartilhado em grupo, com "Tomorrow Never Knows" sendo um
exemplo emblemático do modus operandi beatle da época: a
idéia de Lennon era fazer uma
música em um único acorde,
como os músicos indianos que
já estavam inseridos na cultura
londrina desde o início dos
anos 60. McCartney trouxe os
efeitos sonoros e loops de fita
magnético, e Ringo Starr criou
a batida hipnótica que dá a sensação de tontura da música.
Newman conta que a primeira cítara de George -a de "Norwegian Wood", no disco anterior- era quase decorativa, que
Paul havia pensado em usar osciladores de freqüência em vez
de um quarteto de cordas em
"Yesterday" e que John havia
se contentado em viver uma vida de casado.
Ainda juntos
No processo de pesquisa,
Newman ficou pasmo ao descobrir que "Revolver" foi, de fato,
o último disco dos Beatles como um grupo. "Foi surpreendente descobrir o quanto Lennon, McCartney e Harrison
compartilhavam idéias na época. Eu sempre havia imaginado,
por preguiça, que "Eleanor
Rigby" era uma canção de Paul,
e "Taxman", de George, mas, na
verdade, Paul disse ter sido influenciado pelo interesse de
George em música indiana
quando compôs "Eleanor", e
"Taxman" tem letras de Lennon
e um solo de guitarra de Paul.
Eles ainda eram um grupo na
época. E eram amigos!", conta o
autor, que já estuda propostas
para publicar o livro fora do
mundo virtual -por enquanto,
só na Inglaterra.
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