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Crítica/show
Atualidade do Gang of Four soterra Cardigans
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os anos 80 voltaram a
dominar a cena mais
uma vez, agora na terceira edição do Campari Rock,
anteontem no Via Funchal.
Mas não se trata daquelas coloridas festas celebratórias de
ressurreições desnecessárias.
Era o primeiro show dos ingleses do Gang of Four no Brasil.
Era também o outro lado dos
anos 80, aquele formado pelas
bandas do pós-punk, de cores
mais sombrias, de imaginário
politizado e esquerdista, do tédio feroz, de Sartre e Godard.
Mas foi um show atualíssimo,
típico destes anos 2000, para
quem se deslumbra pelas jovens bandas que fazem rock para dançar. O som do Gang of
Four é a coisa mais genial do
momento -mesmo que tenha
sido criado há quase 30 anos.
Duas décadas de atividades
interrompidas não congelaram
suas músicas. Os ritmos quebrados e dançantes, o baixo pesado e as guitarras secas de músicas como "To Hell with Poverty" ou "Anthrax" funcionam
por si só, independentemente
da época em que foram feitas.
São daquelas canções que
contagiam mesmo um ouvinte
que nunca tenha ouvido falar
no grupo. O fator "é bom porque é das antigas", apelo à enganosa memória saudosista, fica
de lado. Impressionante também é a entrega do vocalista
cinqüentão Jon King ao show,
pulando e dançando com os
braços para cima -dança epiléptica da década de gente extravagante, à Morrissey e Ian
Curtis. Conquistou o público.
Se o Gang of Four, em "Damaged Goods", é claro sobre sexo e amor, o Cardigans também
é muito claro sobre sua função
no Campari Rock: servir apenas como banda de abertura.
O grupo sueco, que na primeira etapa de sua carreira iniciada nos anos 90 construía
uma bela trajetória de personalíssimas canções pop, vem diluindo sua imagem em impessoais incursões até para o
country. O correto show é o resumo de tudo isso, até em figurino. Nina Persson aparece
num visual camponesa medieval, enquanto a banda desfila
um repertório mal escolhido.
Não é de surpreender que o
ponto alto seja a seqüência de
músicas do experimental e viajandão "Gran Turismo".
O grande trunfo da banda,
"Lovefool", vem burocrática e
tocada com certa pressa, com
aquela cara de "a gente não
agüenta tocar essa música, mas
vamos fazer uma concessão ao
Brasil". No bis, outro hit de pistas indies, "My Favourite Game", desperta reações mais
animadas do público e o timing
certo entre o peso e a doçura.
Mas a noite era do Gang of
Four e da confusão temporal
promovida pelo resgate de
"grandes pequenos" ícones que
o festival tem conseguido forjar
em suas edições.
A turnê segue hoje para Florianópolis e amanhã para BH,
no Chevrolet Hall (veja no site www.camparirock.com.br)
CARDIGANS
GANG OF FOUR
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