São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

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Crítica/show

Atualidade do Gang of Four soterra Cardigans

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os anos 80 voltaram a dominar a cena mais uma vez, agora na terceira edição do Campari Rock, anteontem no Via Funchal.
Mas não se trata daquelas coloridas festas celebratórias de ressurreições desnecessárias. Era o primeiro show dos ingleses do Gang of Four no Brasil.
Era também o outro lado dos anos 80, aquele formado pelas bandas do pós-punk, de cores mais sombrias, de imaginário politizado e esquerdista, do tédio feroz, de Sartre e Godard.
Mas foi um show atualíssimo, típico destes anos 2000, para quem se deslumbra pelas jovens bandas que fazem rock para dançar. O som do Gang of Four é a coisa mais genial do momento -mesmo que tenha sido criado há quase 30 anos.
Duas décadas de atividades interrompidas não congelaram suas músicas. Os ritmos quebrados e dançantes, o baixo pesado e as guitarras secas de músicas como "To Hell with Poverty" ou "Anthrax" funcionam por si só, independentemente da época em que foram feitas.
São daquelas canções que contagiam mesmo um ouvinte que nunca tenha ouvido falar no grupo. O fator "é bom porque é das antigas", apelo à enganosa memória saudosista, fica de lado. Impressionante também é a entrega do vocalista cinqüentão Jon King ao show, pulando e dançando com os braços para cima -dança epiléptica da década de gente extravagante, à Morrissey e Ian Curtis. Conquistou o público. Se o Gang of Four, em "Damaged Goods", é claro sobre sexo e amor, o Cardigans também é muito claro sobre sua função no Campari Rock: servir apenas como banda de abertura.
O grupo sueco, que na primeira etapa de sua carreira iniciada nos anos 90 construía uma bela trajetória de personalíssimas canções pop, vem diluindo sua imagem em impessoais incursões até para o country. O correto show é o resumo de tudo isso, até em figurino. Nina Persson aparece num visual camponesa medieval, enquanto a banda desfila um repertório mal escolhido.
Não é de surpreender que o ponto alto seja a seqüência de músicas do experimental e viajandão "Gran Turismo".
O grande trunfo da banda, "Lovefool", vem burocrática e tocada com certa pressa, com aquela cara de "a gente não agüenta tocar essa música, mas vamos fazer uma concessão ao Brasil". No bis, outro hit de pistas indies, "My Favourite Game", desperta reações mais animadas do público e o timing certo entre o peso e a doçura.
Mas a noite era do Gang of Four e da confusão temporal promovida pelo resgate de "grandes pequenos" ícones que o festival tem conseguido forjar em suas edições. A turnê segue hoje para Florianópolis e amanhã para BH, no Chevrolet Hall (veja no site www.camparirock.com.br)


CARDIGANS   

GANG OF FOUR     


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