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De Palma e Bob Dylan são apostas em Veneza
Festival de cinema termina hoje, com a preponderância dos filmes em inglês
Último longa a ser projetado é "A Idade da Terra", de Glauber Rocha, que volta a Veneza 27 anos após participação tumultuada
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM VENEZA
O Festival de Veneza termina
hoje com a distribuição de prêmios e a a exibição de "Blood
Brothers" (irmãos de sangue),
de Alexi Tan. Mas o último filme a ser projetado no Palazzo
del Cinema será "A Idade da
Terra", de Glauber Rocha.
"A Idade da Terra" volta a Veneza, em cópia restaurada, 27
anos depois de uma participação tumultuada. Em 1980, após
a premiação, Glauber saiu pelas
ruas do Lido esbravejando contra o resultado do festival, que
ignorou seu filme e consagrou
"Atlantic City", de Louis Malle,
e "Gloria", de John Cassavetes.
O discurso de Glauber não foi
movido por mera frustração.
Como contam Joel Pizzini e
Paloma Rocha no documentário "Anabazys", também exibido por aqui, naquele ano Veneza inaugurava uma nova fase de
sua história, retomando a premiação (que, após 1968, tinha
sido eliminada) e procurando
se reaproximar da indústria.
Veneza se consolidou como
um evento típico da nova era,
conciliando a plataforma de
marketing da indústria e a defesa do cinema de autor. Nesse
sentido, a seleção apresentada
pelo diretor artístico Marco
Muller neste ano foi bastante
interessante, capaz de sintetizar um certo estado do cinema
no mundo, consciente de que o
cinema autoral pode aparecer
dentro ou fora da indústria.
A competição principal, apesar da preponderância dos filmes em inglês, se mostrou corajosa ao colocar em posição de
igualdade filmes díspares como
a divertida comédia americana
"O Expresso Darjeeling", de
Wes Anderson, e o filme-poema espanhol "En la Ciudad de
Sylvia", de José Luis Guerin.
Alguns filmes formaram pares inusitados, como o surpreendentemente bem-sucedido "I'm Not There" (eu não estou ali), de Todd Haynes, em
que seis atores se alternam na
pele de Bob Dylan, e o explosivo
"Mad Detective" (detetive louco), de Hong Kong, o filme-surpresa da competição, da dupla
Johnny To e Wai Ka Fai.
Opções para um Leão de Ouro digno não faltam. Brian De
Palma apresentou uma rara
combinação de indignação política e pesquisa de linguagem
em "Redacted" (editado), sobre
os horrores da Guerra do Iraque. Eric Rohmer fez uma
aposta radical no lirismo em
"Les Amours d'Astree et de Celadon" (os amores de Astree e
Celadon), mas tem um contra:
já ganhou prêmios demais.
Um que pode surpreender é
"Le Graine et le Mulet" (o grão
e o peixe), de Abdelafit Kechiche, francês de origem tunisiana. Contado em tom neo-realista, o filme é a delicada história de um homem que tenta
construir, com a família, um
restaurante em um barco.
Paul Haggis desponta como
forte candidato com "In The
Valley of Elah" (no vale de Elá),
suspense estrelado por Tommy
Lee Jones e Charlize Theron.
O jornalista PEDRO BUTCHER se hospeda a convite do Festival de Veneza
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