São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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De Palma e Bob Dylan são apostas em Veneza

Festival de cinema termina hoje, com a preponderância dos filmes em inglês

Último longa a ser projetado é "A Idade da Terra", de Glauber Rocha, que volta a Veneza 27 anos após participação tumultuada

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM VENEZA

O Festival de Veneza termina hoje com a distribuição de prêmios e a a exibição de "Blood Brothers" (irmãos de sangue), de Alexi Tan. Mas o último filme a ser projetado no Palazzo del Cinema será "A Idade da Terra", de Glauber Rocha.
"A Idade da Terra" volta a Veneza, em cópia restaurada, 27 anos depois de uma participação tumultuada. Em 1980, após a premiação, Glauber saiu pelas ruas do Lido esbravejando contra o resultado do festival, que ignorou seu filme e consagrou "Atlantic City", de Louis Malle, e "Gloria", de John Cassavetes.
O discurso de Glauber não foi movido por mera frustração. Como contam Joel Pizzini e Paloma Rocha no documentário "Anabazys", também exibido por aqui, naquele ano Veneza inaugurava uma nova fase de sua história, retomando a premiação (que, após 1968, tinha sido eliminada) e procurando se reaproximar da indústria.
Veneza se consolidou como um evento típico da nova era, conciliando a plataforma de marketing da indústria e a defesa do cinema de autor. Nesse sentido, a seleção apresentada pelo diretor artístico Marco Muller neste ano foi bastante interessante, capaz de sintetizar um certo estado do cinema no mundo, consciente de que o cinema autoral pode aparecer dentro ou fora da indústria.
A competição principal, apesar da preponderância dos filmes em inglês, se mostrou corajosa ao colocar em posição de igualdade filmes díspares como a divertida comédia americana "O Expresso Darjeeling", de Wes Anderson, e o filme-poema espanhol "En la Ciudad de Sylvia", de José Luis Guerin.
Alguns filmes formaram pares inusitados, como o surpreendentemente bem-sucedido "I'm Not There" (eu não estou ali), de Todd Haynes, em que seis atores se alternam na pele de Bob Dylan, e o explosivo "Mad Detective" (detetive louco), de Hong Kong, o filme-surpresa da competição, da dupla Johnny To e Wai Ka Fai.
Opções para um Leão de Ouro digno não faltam. Brian De Palma apresentou uma rara combinação de indignação política e pesquisa de linguagem em "Redacted" (editado), sobre os horrores da Guerra do Iraque. Eric Rohmer fez uma aposta radical no lirismo em "Les Amours d'Astree et de Celadon" (os amores de Astree e Celadon), mas tem um contra: já ganhou prêmios demais.
Um que pode surpreender é "Le Graine et le Mulet" (o grão e o peixe), de Abdelafit Kechiche, francês de origem tunisiana. Contado em tom neo-realista, o filme é a delicada história de um homem que tenta construir, com a família, um restaurante em um barco.
Paul Haggis desponta como forte candidato com "In The Valley of Elah" (no vale de Elá), suspense estrelado por Tommy Lee Jones e Charlize Theron.


O jornalista PEDRO BUTCHER se hospeda a convite do Festival de Veneza


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