|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vik Muniz cria imagem de Nossa Senhora de entulho
Obra será a
primeira do
acervo da sede da
Casa Daros
Latinamerica, que
será inaugurada
no Rio no ano que
vem
Imagem é inspirada em estátua que fez parte do espaço; instituição quer dar mais
visibilidade para os artistas latino-americanos
ANA CAROLINA DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
Um dos artistas brasileiros
de maior reconhecimento no
exterior, Vik Muniz escolheu
brincar com o passado para
criar a primeira obra do acervo
da sede da Casa Daros Latinamerica, que será inaugurada
em 2009 em um antigo casarão
em Botafogo, zona sul carioca.
A matéria-prima é simples,
mas de significado forte.
É com todo tipo de entulho
obtido nos dois anos de obras
da casa que o fotógrafo paulistano está montando uma imagem de Nossa Senhora das Graças, espécie de padroeira da
instituição suíça no Rio.
Toda a estrutura do prédio,
erguido em 1866 e comprado
por R$ 16 milhões pela Daros,
passou por reforma. Mas um
detalhe, no alto da fachada, permaneceu intacto. "Gerações e
gerações passaram por ali e a
estátua de Nossa Senhora das
Graças sempre esteve presente.
Visitei todo o terreno, mas a
lembrança que ficou foi daquela santa, um ícone no lugar", explica Muniz, 47.
Inspirado na imagem, ele
juntou restos da estrutura e da
decoração do prédio para criar
uma nova Nossa Senhora das
Graças, de aproximadamente
dez metros de extensão, num
galpão em Parada de Lucas,
bairro da zona norte do Rio,
mais conhecido pelas guerras
entre traficantes. Gavetas, molas, pequenas pilastras, tampas
de garrafa, correntes de bicicleta e, principalmente, pedaços
de parede formam a santa.
Muniz concluirá a obra daqui
a um mês, fotografando a santa
a partir do teto do galpão. "Gosto de mexer com o tempo, trabalhar com o reconhecimento,
viabilizar a possibilidade de um
reencontro com aquilo que você já conhece", diz.
Pintor, desenhista e fotógrafo, Muniz dedicou os últimos
anos a usar materiais inusitados, como chocolate, cabelo e
até lixo -usado num projeto
em Jardim Gramacho (em Duque de Caxias, Baixada Fluminense)- para compor imagens
sobre superfícies e, no final,
transformá-las em fotografias.
A imagem de Nossa Senhora
das Graças ocupará lugar de
destaque no casarão onde funcionará, a partir do segundo semestre de 2009, a Casa Daros
Latinamerica. Até lá, a coleção
Daros Latinamerica, maior
acervo de obras contemporâneas latino-americanas na Europa, continuará em Zurique,
na Suíça.
Para Isabella Rosado Nunes,
diretora-geral da instituição no
Rio, o que está sendo feito em
Parada de Lucas exemplifica a
intenção da Daros, pois Muniz
chamou todos os envolvidos no
projeto da casa para participar
do trabalho no galpão. "Uma
característica muito forte nossa é o diálogo. Queremos interação, troca."
Eugenio Valdés Figueroa, diretor de arte e educação, afirma: "A gente não conseguiria
perpetuar todo esse entulho,
esse passado dentro da casa para sempre. Mas com o trabalho
do Vik estamos conseguindo".
O convite para criar a primeira obra da Daros no Rio partiu
de Hans-Michael Herzog, diretor-geral da Coleção Daros Latinamerica, velho conhecido de
Muniz. "Posso dizer que sou o
artista brasileiro há mais tempo na coleção", diz o brasileiro.
De acordo com Figueroa, o
principal objetivo da instituição é dar maior visilidade aos
artistas da região. "Queremos
reposicionar a arte latino-americana na cena internacional. O
que é produzido por aqui não
está suficientemente representado na história", diz ele. A primeira grande exposição do local será a coletiva "Cantos
Cuentos Colombianos", com
artistas da Colômbia.
Antes da inauguração da Casa Daros Latinamerica, Muniz,
que mora em Nova York há 26
anos, volta ao Brasil para inaugurar, em janeiro, uma exposição no Museu de Arte Moderna
do Rio. "Vai ser a mostra mais
completa que já fiz na vida, vou
trazer tudo que der", adianta.
Texto Anterior: Notas Próximo Texto: Frases Índice
|