São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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Polêmica HQ de Tintim é relançada

Quando saiu no Reino Unido, "Tintim no Congo", de Hergé, foi acusada de possuir conteúdo racista

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Das 24 aventuras em quadrinhos criadas pelo belga Hergé (1907-83) e estreladas pelo jornalista Tintim, nenhuma provocou tanta polêmica quanto a que retrata sua passagem pelo continente africano. A história, lançada no Brasil há 38 anos como "Tintim na África", está saindo novamente, como "Tintim no Congo", mais fiel ao título original ("Tintin au Congo").
Quando esta HQ foi lançada pela editora Egmont na Inglaterra, em 2005, trazia um aviso dizendo que o livro tinha estereótipos e que alguns leitores podem considerá-lo ofensivo.
Em 2007, a Comissão para Igualdade Racial (CRE) pediu às livrarias britânicas que retirassem de suas prateleiras a HQ, devido ao conteúdo racista. A editora norte-americana Little, Brown anunciou, também em 2007, uma caixa com todas as HQs de Tintim, exceto por este álbum, que seria publicado separadamente. Meses depois, recuou e divulgou que a coleção, ainda não completa, sairá integralmente.
Nesta aventura, Tintim viaja à África para escrever reportagens. Chega ao Congo Belga (que depois viria a se chamar Zaire e, atualmente, República Democrática do Congo), então uma colônia da Bélgica (curiosamente, na primeira edição portuguesa, o nome foi alterado e virou "Tim-Tim em Angola", então colônia de Portugal). É nesse ponto que começam as questões que trariam problema aos futuros editores.
Tintim aparece como mais forte e inteligente que os africanos, retratados com inocência infantil e subservientes. Em uma cena, após causar um acidente que derruba um trem, ele convence os congoleses a colocar a máquina de volta aos trilhos sem que ele mesmo precise fazer força. Em outra, o jornalista substitui o professor dos jovens africanos e leciona aos congoleses sobre a sua "pátria, a Bélgica".
Quando Tintim volta à Europa, os africanos criam um ídolo de madeira para adorá-lo como se fosse um deus.
Há, ainda, cenas de violência contra animais. Em uma passagem, Tintim explode um rinoceronte com uma dinamite. Além disso, derruba mais de dez antílopes a tiro.
O leitor brasileiro não verá algumas dessas cenas nesta edição de "Tintim no Congo". A história, lançada originalmente semanalmente a partir de 1930 e reunida em livro em 1931, foi revisada por Hergé em 1946 e relançada com pequenas alterações. Não há mais rinoceronte sendo explodido por dinamite e a aula sobre a pátria Bélgica é substituída por uma de matemática. É esta versão que foi lançada no Brasil.


TINTIM NO CONGO
Autor: Hergé
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 36 (62 págs)




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