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Polêmica HQ de Tintim é relançada
Quando saiu no Reino Unido, "Tintim no Congo", de Hergé, foi acusada de possuir conteúdo racista
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Das 24 aventuras em quadrinhos criadas pelo belga Hergé
(1907-83) e estreladas pelo jornalista Tintim, nenhuma provocou tanta polêmica quanto a
que retrata sua passagem pelo
continente africano. A história,
lançada no Brasil há 38 anos como "Tintim na África", está
saindo novamente, como "Tintim no Congo", mais fiel ao título original ("Tintin au Congo").
Quando esta HQ foi lançada
pela editora Egmont na Inglaterra, em 2005, trazia um aviso
dizendo que o livro tinha estereótipos e que alguns leitores
podem considerá-lo ofensivo.
Em 2007, a Comissão para
Igualdade Racial (CRE) pediu
às livrarias britânicas que retirassem de suas prateleiras a
HQ, devido ao conteúdo racista. A editora norte-americana
Little, Brown anunciou, também em 2007, uma caixa com
todas as HQs de Tintim, exceto
por este álbum, que seria publicado separadamente. Meses
depois, recuou e divulgou que a
coleção, ainda não completa,
sairá integralmente.
Nesta aventura, Tintim viaja
à África para escrever reportagens. Chega ao Congo Belga
(que depois viria a se chamar
Zaire e, atualmente, República
Democrática do Congo), então
uma colônia da Bélgica (curiosamente, na primeira edição
portuguesa, o nome foi alterado e virou "Tim-Tim em Angola", então colônia de Portugal).
É nesse ponto que começam as
questões que trariam problema
aos futuros editores.
Tintim aparece como mais
forte e inteligente que os africanos, retratados com inocência
infantil e subservientes. Em
uma cena, após causar um acidente que derruba um trem, ele
convence os congoleses a colocar a máquina de volta aos trilhos sem que ele mesmo precise fazer força. Em outra, o jornalista substitui o professor
dos jovens africanos e leciona
aos congoleses sobre a sua "pátria, a Bélgica".
Quando Tintim volta à Europa, os africanos criam um ídolo
de madeira para adorá-lo como
se fosse um deus.
Há, ainda, cenas de violência
contra animais. Em uma passagem, Tintim explode um rinoceronte com uma dinamite.
Além disso, derruba mais de
dez antílopes a tiro.
O leitor brasileiro não verá
algumas dessas cenas nesta
edição de "Tintim no Congo". A
história, lançada originalmente
semanalmente a partir de 1930
e reunida em livro em 1931, foi
revisada por Hergé em 1946 e
relançada com pequenas alterações. Não há mais rinoceronte sendo explodido por dinamite e a aula sobre a pátria Bélgica
é substituída por uma de matemática. É esta versão que foi
lançada no Brasil.
TINTIM NO CONGO
Autor: Hergé
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 36 (62 págs)
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