São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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66º FESTIVAL DE VENEZA

"Chávez é um grande herói", diz Oliver Stone

Venezuelano foi a Veneza ver filme de Oliver Stone

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

A política dominou o Festival de Veneza ontem com a exibição de "South of the Border", (sul da fronteira), um perfil amplamente positivo do presidente venezuelano Hugo Chávez dirigido por Oliver Stone.
Confirmando rumores, Chávez veio ao Lido para a sessão de gala do filme e, ao lado de Stone, passou pelo tapete vermelho. Foi aplaudido por centenas de pessoas, mas também ouviu gritos de "ditadura" e "morte". O longa foi aplaudido várias vezes durante a projeção, e ainda mais ao final.
Antes da sessão, Stone esteve em mesa-redonda com dez jornalistas -a Folha foi o único veículo brasileiro presente.
Questionado por que decidira retratar Chávez, o diretor afirmou que os documentários sobre líderes estrangeiros são uma tentativa de entender seu país. Ele já filmou Fidel Castro em "Comandante" (2003) e planeja um longa sobre o iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "Desde que nasci, sempre estivemos em busca de inimigos. Guerra Fria, Guerra do Vietnã, Guerra ao Terror, guerra às drogas, eixo do mal. E a mídia americana apoia tudo isso, faz lavagem cerebral."
O cineasta definiu Chávez como "um grande herói", que deveria servir de exemplo ao presidente dos EUA, Barack Obama. "Precisamos de mais dez políticos como Chávez, que cumprem o que prometem quando são eleitos."
O filme de Stone começa com um apanhado de como a imprensa dos EUA trata o venezuelano. Predominam imagens da Fox News, que rotula Chávez como "tirano".
Na cena inicial, uma apresentadora do canal afirma que Chávez é viciado em cocaína, pois masca folhas de coca. Após o prólogo, Stone já surge em Caracas com Chávez, enquanto imagens de arquivo mostram a trajetória do presidente desde sua tentativa frustrada de golpe militar em 1992.
Os dois vão juntos à casa onde o venezuelano nasceu, visitam uma fábrica de farinha construída com apoio do Irã e participam de encontros com apoiadores do governo. Tudo é acompanhado de dados positivos da gestão, como a redução da pobreza. Nas conversas com Chávez, Stone parece mais um fã do que um entrevistador.
Sobre a ausência de entrevistas com oposicionistas venezuelanos, Stone disse que já havia críticas suficientes no filme e que vê Chávez como um democrata: "Se redes americanas dissessem sobre o governo dos EUA o que é dito sobre Chávez na Venezuela, elas teriam sido processadas e fechadas. Na Venezuela, 90% da mídia é contra Chávez, e tudo é tolerado".
No filme, Stone deixa Caracas para entrevistas com outros líderes da região, e o tom laudatório prossegue. Na Bolívia, por exemplo, o diretor joga futebol e aprende a mascar coca com Evo Morales.
No Brasil, Chávez aparece ao lado do presidente Lula e diz: "Ele é meu irmão". Depois, olha para Stone e completa: "Você também". Na mesa-redonda, como esperado, Stone apoiou Lula ("o Brasil está no caminho do progresso") e atacou o principal desafeto de Chávez, o colombiano Álvaro Uribe ("é a força mais opressiva da América Latina").
No epílogo do filme, Stone se mostra otimista quanto às relações de Chávez com os EUA na era Obama. Na mesa redonda, no entanto, o diretor não estava tão empolgado. "Não acho que ele tenha controle completo do governo. O setor de América Latina no Departamento de Estado dos EUA age como se ainda lutasse contra o comunismo."

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