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66º FESTIVAL DE VENEZA
"Chávez é um grande herói", diz Oliver Stone
Venezuelano foi a Veneza ver filme de Oliver Stone
LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
A política dominou o Festival
de Veneza ontem com a exibição de "South of the Border",
(sul da fronteira), um perfil amplamente positivo do presidente venezuelano Hugo Chávez
dirigido por Oliver Stone.
Confirmando rumores, Chávez veio ao Lido para a sessão
de gala do filme e, ao lado de
Stone, passou pelo tapete vermelho. Foi aplaudido por centenas de pessoas, mas também
ouviu gritos de "ditadura" e
"morte". O longa foi aplaudido
várias vezes durante a projeção,
e ainda mais ao final.
Antes da sessão, Stone esteve
em mesa-redonda com dez jornalistas -a Folha foi o único
veículo brasileiro presente.
Questionado por que decidira retratar Chávez, o diretor
afirmou que os documentários
sobre líderes estrangeiros são
uma tentativa de entender seu
país. Ele já filmou Fidel Castro
em "Comandante" (2003) e
planeja um longa sobre o iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "Desde que nasci, sempre
estivemos em busca de inimigos. Guerra Fria, Guerra do
Vietnã, Guerra ao Terror, guerra às drogas, eixo do mal. E a
mídia americana apoia tudo isso, faz lavagem cerebral."
O cineasta definiu Chávez
como "um grande herói", que
deveria servir de exemplo ao
presidente dos EUA, Barack
Obama. "Precisamos de mais
dez políticos como Chávez, que
cumprem o que prometem
quando são eleitos."
O filme de Stone começa
com um apanhado de como a
imprensa dos EUA trata o venezuelano. Predominam imagens da Fox News, que rotula
Chávez como "tirano".
Na cena inicial, uma apresentadora do canal afirma que
Chávez é viciado em cocaína,
pois masca folhas de coca. Após
o prólogo, Stone já surge em
Caracas com Chávez, enquanto
imagens de arquivo mostram a
trajetória do presidente desde
sua tentativa frustrada de golpe militar em 1992.
Os dois vão juntos à casa onde o venezuelano nasceu, visitam uma fábrica de farinha
construída com apoio do Irã e
participam de encontros com
apoiadores do governo. Tudo é
acompanhado de dados positivos da gestão, como a redução
da pobreza. Nas conversas com
Chávez, Stone parece mais um
fã do que um entrevistador.
Sobre a ausência de entrevistas com oposicionistas venezuelanos, Stone disse que já havia críticas suficientes no filme
e que vê Chávez como um democrata: "Se redes americanas
dissessem sobre o governo dos
EUA o que é dito sobre Chávez
na Venezuela, elas teriam sido
processadas e fechadas. Na Venezuela, 90% da mídia é contra
Chávez, e tudo é tolerado".
No filme, Stone deixa Caracas para entrevistas com outros líderes da região, e o tom
laudatório prossegue. Na Bolívia, por exemplo, o diretor joga
futebol e aprende a mascar coca com Evo Morales.
No Brasil, Chávez aparece ao
lado do presidente Lula e diz:
"Ele é meu irmão". Depois,
olha para Stone e completa:
"Você também". Na mesa-redonda, como esperado, Stone
apoiou Lula ("o Brasil está no
caminho do progresso") e atacou o principal desafeto de
Chávez, o colombiano Álvaro
Uribe ("é a força mais opressiva da América Latina").
No epílogo do filme, Stone se
mostra otimista quanto às relações de Chávez com os EUA na
era Obama. Na mesa redonda,
no entanto, o diretor não estava tão empolgado. "Não acho
que ele tenha controle completo do governo. O setor de América Latina no Departamento
de Estado dos EUA age como se
ainda lutasse contra o comunismo."
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