|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Insolação" exibe Brasília melancólica
DO ENVIADO A VENEZA
O título de "Insolação" poderia muito bem ser "Desolação",
tamanhas a angústia e o desamparo que dominam os personagens do filme de Felipe Hirsch
e Daniela Thomas, exibido no
domingo à tarde na seção Horizontes do Festival de Veneza.
O longa entrelaça várias histórias de desilusão amorosa,
que têm como fonte autores
russos do século 19, como
Tchecov e Turgueniev. Simone
Spoladore e Leonardo Medeiros são alguns dos intérpretes
desses dramas, e o veterano
Paulo José conduz a narrativa.
"Eu queria filmar a sensação
de amor muito intensa que certos contos russos transmitem.
Capturar esse espírito", conta
Hirsch à Folha, minutos depois de o filme passar em sala
de 1.300 lugares quase lotada.
"O que nos interessava era o
nascimento do amor, o intervalo de tempo entre o desejo e o
início de uma relação amorosa.
Uma sensação urgente, quase
palpável", completa Daniela.
O resultado é um filme difícil, que cruza referências da literatura, do teatro, da arquitetura e do próprio cinema, fusão
típica das parcerias que Hirsch
e Daniela desenvolveram no
teatro nos últimos nove anos.
Se a matriz é literária, os diálogos são essencialmente teatrais, impostados. Cada fala de
"Insolação" segue um tempo
bem mais lento que o naturalismo dominante no cinema.
E na arquitetura está a alma
do filme. "Insolação" foi rodado em Brasília, mas numa parte
da cidade pouco conhecida, de
prédios modernistas abandonados. Paulo José faz monólogos em um salão enorme de um
clube que deixou a ser usado há
20 anos, e os personagens centrais se encontram em um
quiosque numa rua deserta.
A fotografia de Mauro Pinheiro Jr. explora bem esses
espaços vazios, fantasmagóricos como os próprios personagens do longa. E também recorre à metalinguagem -a janela desse quiosque, por onde
vemos os personagens, se encaixa exatamente nas dimensões do filme na tela de cinema.
Os diretores apontam, com
razão, uma relação entre essa
utopia fracassada dos edifícios
e a utopia amorosa dos protagonistas. "Esse cenário de Brasília se relaciona emocionalmente com nossa história",
afirma Hirsch. Daniela diz ter
"obsessão com a paisagem,
com a geografia nos filmes".
"Sempre busco nas paisagens,
nos lugares, um momento muito importante de significação",
acrescenta a cineasta.
(LC)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Série mais pirateada da TV ganha 4ª temporada Índice
|