São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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"Insolação" exibe Brasília melancólica

DO ENVIADO A VENEZA

O título de "Insolação" poderia muito bem ser "Desolação", tamanhas a angústia e o desamparo que dominam os personagens do filme de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, exibido no domingo à tarde na seção Horizontes do Festival de Veneza.
O longa entrelaça várias histórias de desilusão amorosa, que têm como fonte autores russos do século 19, como Tchecov e Turgueniev. Simone Spoladore e Leonardo Medeiros são alguns dos intérpretes desses dramas, e o veterano Paulo José conduz a narrativa.
"Eu queria filmar a sensação de amor muito intensa que certos contos russos transmitem. Capturar esse espírito", conta Hirsch à Folha, minutos depois de o filme passar em sala de 1.300 lugares quase lotada.
"O que nos interessava era o nascimento do amor, o intervalo de tempo entre o desejo e o início de uma relação amorosa. Uma sensação urgente, quase palpável", completa Daniela.
O resultado é um filme difícil, que cruza referências da literatura, do teatro, da arquitetura e do próprio cinema, fusão típica das parcerias que Hirsch e Daniela desenvolveram no teatro nos últimos nove anos.
Se a matriz é literária, os diálogos são essencialmente teatrais, impostados. Cada fala de "Insolação" segue um tempo bem mais lento que o naturalismo dominante no cinema.
E na arquitetura está a alma do filme. "Insolação" foi rodado em Brasília, mas numa parte da cidade pouco conhecida, de prédios modernistas abandonados. Paulo José faz monólogos em um salão enorme de um clube que deixou a ser usado há 20 anos, e os personagens centrais se encontram em um quiosque numa rua deserta.
A fotografia de Mauro Pinheiro Jr. explora bem esses espaços vazios, fantasmagóricos como os próprios personagens do longa. E também recorre à metalinguagem -a janela desse quiosque, por onde vemos os personagens, se encaixa exatamente nas dimensões do filme na tela de cinema.
Os diretores apontam, com razão, uma relação entre essa utopia fracassada dos edifícios e a utopia amorosa dos protagonistas. "Esse cenário de Brasília se relaciona emocionalmente com nossa história", afirma Hirsch. Daniela diz ter "obsessão com a paisagem, com a geografia nos filmes". "Sempre busco nas paisagens, nos lugares, um momento muito importante de significação", acrescenta a cineasta. (LC)


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