São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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Comentário

Tambor bate computador no Perc Pan

SÉRGIO MALBERGIER
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O Perc Pan é um dos melhores festivais do país. A começar pelo improvável foco, a percussão. Um foco bem aberto, os artistas não precisam ser percussionistas, mas ressaltar a percussão em sua obra. Ou relê-la.
Ou simplesmente fazerem música ousada, sintética, como os americanos do Beirut, sensação independente que fechou a noite de sexta em Salvador com um show tumultuado (que você pode ver no YouTube digitando "beirut" e "álcool") e tensão roqueira no backstage.
Perto dessa primeira noite, a segunda acabou mais normal, o que eu nunca pensei escrever sobre Airto Moreira e Flora Purim. A música do exilado casal, um power instrumental brasileiro-jazzista com vocais saudosistas de um Brasil que não existe mais, quase folclórico, continua de alta qualidade.
Mas o "continua" suplanta a "alta qualidade". E a sensação de ouvir o conhecido só foi rompida pela filha e pelo genro do casal: Diana Moreira Booker e Krishna Booker.
Diana arrepiou a plateia com uma versão quase à capella do clássico de Nina Simone "Feeling Good". "Quase" porque Krishna entrou fazendo poderoso beatbox, com linha de baixo impressionante. Foi o momento alto, mas a revelação da noite tinha vindo antes: o pandeirista e percussionista baiano Emerson Taquari.
Inventivo, inteligente, Taquari é prova da riqueza musical mesmo do mais comercial dos ritmos baianos: o axé. Já tocou com Ivete e Daniela e é grande instrumentista. Abriu seu show com sete percussionistas levando samba em "Pau Brasil", groovado e sutil. Depois, em "Trio Baiano", mostrou a riqueza melódica da combinação percussiva do axé: repique, timbau e surdo.
Essa noite teve ainda de notável o duelo dos pandeiristas Andrea Piccioni, italiano, e o nosso Marcos Suzano, curador do festival. Foi uma noite de muito mais raiz percussiva (e por isso melhor) que a primeira, invadida por experimentos tecnológicos. Mesmo interessantes, os tambores da Apple ainda não balançam teatro como surdos e timbaus. Para o ano que vem, a 17ª edição do Perc Pan, Beth Cayres, sua idealizadora e realizadora, já confirma o genial Stewart Copeland, baterista do Police, muito influente entre seus pares brasileiros. Depois de Salvador, o festival partiu para o Rio e chega a São Paulo desidratado, na sexta, só com Beirut. Tomara que não se excitem tanto na capital paulista e consigam terminar o show.


O jornalista SÉRGIO MALBERGIER viajou a Salvador a convite do festival

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