São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Criadores estendem universo de "Lost"

Tecnologia digital e mistura de fantasia e realidade ajudam a estender série

Rotina de Damon Lindelof e Carlton Cuse inclui bolar campanhas promocionais, episódios para celular e livro de sobrevivente fictício

LORNE MANLY
DO "NEW YORK TIMES", EM BURBANK, CALIFÓRNIA

Na manhã posterior à entrega dos prêmios Emmy deste ano, em agosto, Damon Lindelof, 33, e Carlton Cuse, 47, os homens que comandam "Lost", produção da rede de TV ABC, reuniram-se no escritório de Cuse no estúdio da Disney, como de costume, e começaram a mapear a estratégia para o dia de trabalho que os aguardava. Os dois tinham de cortar 22 minutos do episódio de estréia da nova temporada, que foi ao ar por lá na última quarta (leia ao lado), ajudar os roteiristas a encontrar o tom certo para o episódio cinco, responder a telefonemas do estúdio e escalar um ator secundário. Também precisavam revisar diálogos do terceiro episódio com o diretor e escrever o sexto episódio. Todas as tarefas se relacionam à produção da série, um drama ambíguo sobre os sobreviventes de uma queda de avião em algum lugar do Pacífico Sul. Mas são só parte das responsabilidades cada vez maiores que os dois agora precisam assumir. Supervisionar os subprodutos do programa ocupa cada vez mais o tempo de Cuse e Lindelof. Não se trata só de licenciamento tradicional, de lancheiras ou pôsteres -as promoções de "Lost" podem ser tão complicadas quanto o seriado. A idéia é expandir a série usando tecnologia digital e misturando fantasia e realidade. Existem, é claro, camisetas, cartões, quebra-cabeças: todos os produtos envolvem participação de Lindelof e Cuse, que ainda escrevem 13 episódios para veiculação em celulares e ajudam a desenvolver um jogo de videogame que incorporará as cenas em flashback da série. A dupla também desenvolveu a produção promocional "The Lost Experience", patrocinada pela nebulosa Hanso Foundation. O comercial instruía os espectadores a seguir pistas do site da Hanso. A brincadeira se tornou realidade numa convenção de quadrinhos, interrompida por um manifestante que denunciou a falsa fundação -na verdade, um ator contratado por Lindelof e Cuse.

Pirâmide
"Lost" tem um elenco com cerca de uma dúzia de personagens principais, uma equipe técnica e de produção com mais de 500 pessoas e um orçamento anual de mais de US$ 65 milhões. Os dois dirigentes estão no topo dessa pirâmide. Na última semana de agosto, Lindelof e Cuse foram a uma reunião na sede da ABC, que começou no ano passado a disponibilizar episódios de "Lost" no site um dia após sua veiculação na TV. Eles pensavam em como convencer os internautas a estender a visita. Lindelof sugeriu criar um guru que respondesse às perguntas dos internautas, fazendo da ABC.com o lugar onde obter respostas e procurar pistas. Cuse apoiou. Mais tarde, no escritório do supervisor de desenvolvimento de negócios da ABC Entertainment e da Touchstone Television (outra subsidiária da Disney), Cuse soube de desdobramentos que lhe irritaram. No segundo trimestre, a Touchstone, por insistência de Cuse e Lindelof, fechou acordo com sindicatos de Hollywood para que os atores pudessem trabalhar em episódios para celulares. Foi o primeiro grande estúdio a fazê-lo. Mas nem todos os nomes de "Lost" haviam assinado seus contratos. "Eles parecem pensar que ganharão milhões, e isso não vai acontecer", disse Barry Jossen, vice-presidente executivo de produção da Touchstone Television.

Romance
A ABC encomendou versões em livro de "Lost". Lindelof leu um deles e pensou: "Isso é horrível". Resolveu, com Cuse, desenvolver o romance "Bad Twin", de um tal Gary Troup. O fictício Troup sobreviveu à queda do avião, mas foi sugado para dentro de uma turbina a jato, não sem antes enviar ao seu editor um manuscrito. O livro oferece pistas para atrair os fanáticos de "Lost". "Bad Twin" aparece duas vezes na série, depois que um personagem encontra o manuscrito em meio aos destroços. Isso bastou para que o livro (ed. Hyperion) chegasse à lista de best-sellers do "New York Times". Sucessos como esse aumentam a pressão para que se crie ainda mais. Lindelof se preocupa com que a atenção aos projetos extracurriculares os faça negligenciar sua responsabilidade primária. Embora não pare de propor idéias, a dupla tenta manter uma coisa em mente: "Se a série for ruim", diz Cuse, "nada disso tem valor".


Tradução PAULO MIGLIACCI


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