São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Crítica

Minelli filma o estranhamento conjugal

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Não há muito mistério naquilo que "Teu Nome É Mulher" (TCM, 16h30) propõe em princípio: uma comédia romântica sobre pessoas que se conhecem vagamente, em viagem, sendo que um deles, o jornalista Gregory Peck, está em estado quase comatoso de tanto que andou bebendo.
Seja como for, ele e Lauren Bacall se casam. E demora até que percebam quem são. Ele é um jornalista de esportes. Um grosso, em suma. Ela, uma designer de moda. Uma garota sofisticada, enfim.
Este filme de Vincente Minnelli traz ecos do que no passado havia constituído a glória da dupla Spencer Tracy/Katharine Hepburn (num deles, Tracy é jornalista esportivo, precisamente). Mas há diferenças significativas. Hepburn, sobretudo, era uma virtuose, dominava os papéis que lhe cabiam, fazia com que se adaptassem a ela.
Bacall nunca teve tais dotes. Assimilava seus papéis. E o de designer lhe cai bem: condiz com a figura sofisticada que sabia compor, sem exigir-lhe profundidade demais. E Gregory Peck tinha um jeito selvagem, de maneira que podia muito bem fazer um brucutu sem que sua imagem saísse arranhada.
Nas velhas comédias de Tracy/Hepburn, tudo, no fim das contas, desembocava em um mundo risonho. Nos anos 50, nas mãos de Minnelli, não é isso que acontece: é o estranhamento, são as dores conjugais, as distâncias irreconciliáveis da -apesar de tudo- união que saltam aos olhos.


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