São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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"Não sentiremos saudade de Frateschi"

Afirmação sobre demissionário da Funarte é de Odilon Wagner, da Associação de Produtores Teatrais Independentes; opinião não é unânime

Já a vice-presidente de associação de produtores do Rio diz que o problema está no orçamento da Funarte, e não em seu ex-presidente


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

As reações ao anúncio da saída de Celso Frateschi da presidência da Funarte, anteontem, variaram do alívio ao pesar. Ele deixou a presidência da fundação após a publicação de reportagem em "O Globo" sobre suposto favorecimento da instituição à Ágora, companhia de teatro que Frateschi fundou.
O presidente da Associação dos Produtores Teatrais Independentes, Odilon Wagner, disse que a instituição que representa "não sentirá saudades" do demissionário:
"Estamos aliviados com a saída dele. A gestão foi caótica, caracterizada pelo autoritarismo e pela falta de diálogo. Tudo o que ele é bom como artista ele não é como gestor. Vínhamos mostrando há tempos a dificuldade de acesso aos mecanismos que a Funarte disponibiliza".
A produtora teatral carioca Andréa Alves avalia que "faltou uma proximidade maior [de Frateschi] com os segmentos". "Houve conversa, mas sem continuidade. Não vimos resultados práticos."
Para Bianca de Felippes, vice-presidente da Associação dos Produtores Teatrais do Rio de Janeiro, "os problemas estruturais da Funarte e do Ministério da Cultura são grandes" e não podem ser atribuídos a uma só gestão:
"Tenho muita admiração pelo Celso. Sinto muitíssimo que tenha transcorrido dessa maneira. A questão maior é a falta de orçamento".
O diretor teatral Sérgio Carvalho, da paulista Cia. do Latão, observou que "Frateschi pagou o preço de se confrontar com a inércia privatista que movia a Funarte":
"De um lado, se indispôs com o baixo clero do teatro comercial do Rio, que fazia da entidade o seu quintal. De outro lado, não teve o apoio do movimento de teatro de grupo, por despolitização deste".

Comemoração
Cerca de 70 funcionários da Funarte comemoravam ontem de manhã, na sede da fundação, no centro do Rio, a saída de Frateschi e do diretor-executivo, Pedro Braz.
A Asserte (Associação de Servidores da Funarte) acusa o ator de autoritarismo e de descaracterizar projetos.
Antes uma caravana de artistas que viajava por cidades brasileiras, agora os espetáculos do projeto Pixinguinha acontecem só dentro dos Estados com dois artistas locais, e resultarão na gravação de um CD com tiragem de mil cópias. Frateschi justifica que a divulgação musical hoje não depende apenas de shows e que o intento é fortalecer as cadeias produtivas locais.
O projeto Rede Nacional de Artes Visuais, cujos participantes eram escolhidos por convites, agora adotou a seleção por edital. Segundo Xico Chaves, ex-coordenador de Artes Visuais da Funarte, o projeto pode não funcionar em seu novo formato. "O convite partia de um mapeamento feito pelos críticos mais importantes de cada região, a partir do qual a gente via as necessidades para depois desenvolver um conjunto de atividades específico", diz.
"Quando a gente abre o edital, a gente é autoritário?", questiona Frateschi. "Se eu indicasse quem eu quero é que seria um contra-senso."


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