São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filme que evita clichês da violência encerra festival

" Verônica" tem tráfico no Rio como pano de fundo

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O cineasta Maurício Farias ("A Grande Família - O Filme") encerrou, anteontem, a mostra competitiva da Première Brasil no Festival do Rio com o longa "Verônica".
O filme compete com outros sete títulos na categoria ficção. Os vencedores serão conhecidos amanhã.
Com Andréa Beltrão no papel-título, "Verônica" acompanha a saga de uma professora da rede pública que se vê acuada pela polícia e por bandidos, quando abriga um aluno cujos pais foram assassinados.
O pai do menino, interpretado por Matheus de Sá, trabalhava para o tráfico e agia também como informante da polícia. Antes de morrer, ele deixa com o garoto um arquivo digital contendo imagens que incriminam ambos os lados.
O diretor afirma que o filme "partiu da vontade de falar sobre os heróis anônimos da vida e, mais particularmente, de uma cidade onde a lei e o Estado não atuam em todas as áreas".
Embora tenha a guerra do tráfico no Rio e o fosso social entre ricos (ou remediados) e pobres como pano de fundo, "Verônica" propõe uma abordagem distinta da adotada em recentes exemplares do subgênero brasileiro "favela movie".
"Meu maior interesse foi falar de uma pessoa que, de repente, se vê obrigada a dar um passo tão grande, por uma ética pessoal que ela não é capaz de transgredir", diz Farias.
A ética íntima de Verônica, ao decidir manter consigo a criança, em vez de entregá-la à proteção do Estado, fere o que determina a lei.
"Esse é o ponto que tem a ver com a nossa questão brasileira -tentar organizar um país, um Estado, e não ter condições para isso", afirma Farias.

Sem violência
Os protagonistas de "Verônica" estão sob constante ameaça, mas o diretor procurou "de alguma maneira não entrar na violência" por reprovar a "espetacularização da violência". Em razão dessa escolha, ele diz: "Cheguei a ter medo de pensarem que eu estava fazendo um filme água-com-açúcar sobre esse assunto".
Farias escalou atores profissionais em todos os papéis, inclusive nos secundários. "Acho que um ator bem escalado é muito melhor do que um principiante fazendo um papel. Admiro os diretores que trabalham com atores não-profissionais, mas tenho uma paixão por trabalhar com ator", diz.
"Verônica" foi filmado com R$ 500 mil, em sistema "de cooperativa", segundo o diretor. Isso significa que parte do elenco e da equipe técnica "são sócios do filme".
Farias afirma que há em seu longa "algumas homenagens" a "Glória" (1980), de John Cassavetes, em que a atriz Gena Rowlands é uma fora-da-lei que tenta proteger da perseguição da máfia um garoto cujos pais foram assassinados, mas o diretor não vê os dois filmes como aparentados.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Cinema: Retrospectiva de Liv Ullmann começa hoje em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.