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Filme que evita clichês da violência encerra festival"
Verônica" tem tráfico no Rio como pano de fundo
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O cineasta Maurício Farias
("A Grande Família - O Filme")
encerrou, anteontem, a mostra
competitiva da Première Brasil
no Festival do Rio com o longa
"Verônica".
O filme compete com outros
sete títulos na categoria ficção.
Os vencedores serão conhecidos amanhã.
Com Andréa Beltrão no papel-título, "Verônica" acompanha a saga de uma professora
da rede pública que se vê acuada pela polícia e por bandidos,
quando abriga um aluno cujos
pais foram assassinados.
O pai do menino, interpretado por Matheus de Sá, trabalhava para o tráfico e agia também como informante da polícia. Antes de morrer, ele deixa
com o garoto um arquivo digital contendo imagens que incriminam ambos os lados.
O diretor afirma que o filme
"partiu da vontade de falar sobre os heróis anônimos da vida
e, mais particularmente, de
uma cidade onde a lei e o Estado não atuam em todas as
áreas".
Embora tenha a guerra do
tráfico no Rio e o fosso social
entre ricos (ou remediados) e
pobres como pano de fundo,
"Verônica" propõe uma abordagem distinta da adotada em
recentes exemplares do subgênero brasileiro "favela movie".
"Meu maior interesse foi falar de uma pessoa que, de repente, se vê obrigada a dar um
passo tão grande, por uma ética
pessoal que ela não é capaz de
transgredir", diz Farias.
A ética íntima de Verônica,
ao decidir manter consigo a
criança, em vez de entregá-la à
proteção do Estado, fere o que
determina a lei.
"Esse é o ponto que tem a ver
com a nossa questão brasileira
-tentar organizar um país, um
Estado, e não ter condições para isso", afirma Farias.
Sem violência
Os protagonistas de "Verônica" estão sob constante ameaça, mas o diretor procurou "de
alguma maneira não entrar na
violência" por reprovar a "espetacularização da violência". Em
razão dessa escolha, ele diz:
"Cheguei a ter medo de pensarem que eu estava fazendo um
filme água-com-açúcar sobre
esse assunto".
Farias escalou atores profissionais em todos os papéis, inclusive nos secundários. "Acho
que um ator bem escalado é
muito melhor do que um principiante fazendo um papel. Admiro os diretores que trabalham com atores não-profissionais, mas tenho uma paixão por
trabalhar com ator", diz.
"Verônica" foi filmado com
R$ 500 mil, em sistema "de
cooperativa", segundo o diretor. Isso significa que parte do
elenco e da equipe técnica "são
sócios do filme".
Farias afirma que há em seu
longa "algumas homenagens" a
"Glória" (1980), de John Cassavetes, em que a atriz Gena
Rowlands é uma fora-da-lei
que tenta proteger da perseguição da máfia um garoto cujos
pais foram assassinados, mas o
diretor não vê os dois filmes como aparentados.
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